O copo meio cheio

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Pessimismo da inteligência, otimismo da vontade

(Antonio Gramsci)

Ora o que fará um otimista da vontade, depois de ouvir o pessimista da inteligência a ter razão? Encontrar razões de esperança no meio dos pratos sujos, garrafas vazias e copos meio cheios, meio vazios, que ficam depois da festa e que alguém virá limpar.

Falei em copos meio cheios e meio vazios? Ora aí está a imagem favorita da dupla do pessimista e do otimista. O copo está meio cheio ou meio vazio?

Reconhecemos que a AD ganhou a festa e por isso o copo deles ficou bem cheio de espumante, ainda a espumar. O nosso copo, digo eu, está meio cheio, porque pus o pessimista a um canto com a sua razão e fiquei aqui no papel do otimista da vontade, com as suas razões.

1. Saindo derrotado, porque não ganhou Lisboa e Porto e perdeu a presidência da ANMP, o PS conseguiu ainda assim uma notável recuperação em votos, em câmaras e em vereadores. Ganhou câmaras importantes em sedes de distrito, como Coimbra, Évora, Viseu, Bragança, Faro, Castelo Branco, Leiria, Viana do Castelo, Vila Real.

2. O Chega não atingiu os seus objetivos autárquicos, sendo particularmente saborosas as derrotas em Faro e em Sintra.

3. Foi-me particularmente caro ver que os resultados no Algarve desmentiram as previsões dos que anteviam um novo reino do Chega nos Algarves.

A conclusão a tirar (que já toda a gente sabia) é que evidentemente não se pode transpor os números das eleições legislativas para eleições autárquicas. As lógicas e as motivações são diferentes.

O otimista da vontade segura o seu copo meio cheio e encara o pessimista da inteligência, que sorri e lembra que o Chega, apesar de ter descido em número de votos, ganhou três câmaras e aumentou o número de vereadores em muitas outras, ganhando assim poder autárquico. Mas a democracia cumpriu-se, no respeito das suas regras, e temos de continuar sempre atentos e vigilantes no que toca ao respeito das normas constitucionais. E é preciso que a direita democrática não ceda aos cantos de sereia do Chega.

O otimista e o pessimista brindam com os seus copos meio cheios e meio vazios à continuação da luta democrática. E ao seu partido, que o leitor terá adivinhado qual é.

E termino com um poema de Sophia, como aviso contra os novos abutres da democracia:

O velho abutre é sábio e alisa as suas penas

A podridão lhe agrada e seus discursos

Têm o dom de tornar as almas mais pequenas

Diplomata e escritor

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