Não é apenas a fazerem uísque malte que os irlandeses são bons. São, igualmente, competentes na construção de um modelo de sociedade que conhece valores de crescimento que qualquer país ambiciona ter.Basta passar os olhos pelos números do PIB nos últimos anos para constatar esse facto. Para o ano de 2025 a previsão do Banco da Irlanda para o PIB é de 4,3% o que não deverá ser difícil de conseguir. Senão vejamos! O primeiro e segundos trimestres de 2025 tiveram um crescimento, respectivamente, de 13,3% e 12,5%.Mas, afinal, qual o segredo deste milagre irlandês ? Sabemos, em primeiro lugar que, por lá, há muito dinheiro norte-americano que vem das empresas tecnológicas que escolheram Dublin, capital da Irlanda, para se instalarem. Google, Apple, Pfizer, estão em Dublin assim como outras empresas de serviços e farmacêuticas.A opção destas empresas em fixarem-se na Irlanda tem a ver com política fiscal que o país pratica e que conhece uma grande estabilidade. Prioridade aos impostos baixos. O IRC sobre as empresas, na Irlanda, tem o valor de 12,5%, o que justifica em grande medida a escolha das tecnológicas norte-americanas para a instalação das suas sedes.Para além disso, os irlandeses não mudam os impostos como quem muda de camisa.Aliás a estabilidade política e maturidade dos partidos políticos na Irlanda não se compara com Portugal. Por lá levam-se as coisas a sério e não perdem tempo com assuntos de lana caprina.O Fine Gael , partido de centro direita, liberal e conservador e o Fianna Fail, partido republicano e nacionalista de centro, a que se juntaram alguns deputados independentes, nas últimas eleições (em 2020), fizeram entre eles um acordo que incluiu cortes nos impostos, um sistema tributário amigo da inovação, aumento do investimento público e subida anual da taxa de carbono.Portanto, caros leitores, partidos políticos com juizinho, previsibilidade política e impostos baixos explicam uma parte importante do sucesso irlandês.A juntar a tudo isto os irlandeses dão uma especial atenção às questões da Educação. Educação obrigatória dos 6 aos 16 anos e, fortemente, incentivada dos 3 aos 6 anos. O foco educativo está na inovação com especial relevo para áreas como a ciência, tecnologia, matemática e a engenharia. Isto faz com que as universidades irlandesas sejam muito procuradas por estudantes estrangeiros. Recebem, anualmente, cerca de 30 mil estudantes provenientes de outros países. Mas o mais importante no modelo educativo irlandês é que ele está, fortemente, ligado à economia e às empresas.Quando saem das universidades os jovens recém formados têm, igualmente, um horizonte de vida. Ao contrário do que faz o patronato português que, muitas vezes, promove estágios não remunerados por um período de seis meses, recusando-se depois a fazer um contrato com os estagiários, na Irlanda há estágios que são obrigatórios (Internships) em cursos técnicos como engenharia, tecnologia, finanças, farmacêutica e marketing. Remunerados, naturalmente. E com contratação, pós estágio, na maioria dos casos.Este modelo cria uma economia competitiva com índices de produtividade elevadíssimos. Em 2025 a produtividade laboral era de 127 euros por trabalhador e nas multinacionais esse valor cresce para os 388,9 euros por hora. Isto comparado com a produtividade média na União Europeia, que é de 46,4 euros por hora, dá ideia da distância a que se encontra a Irlanda.Naturalmente que com valores elevados de crescimento a Irlanda tem bastante disponibilidade financeira para as áreas sociais, muito em particular a saúde. Com quase seis milhões de habitantes o seu orçamento de saúde em 2025 é de 25,8 milhões de euros e para 2026 está previsto que os irlandeses venham a gastar 27,4 milhões de euros para tratar a saúde dos seus habitantes.A Irlanda é pois um bom exemplo de como se pode construir um país com decisões correctas, uma atitude política sensata com prioridade aos problemas do país.Sem dúvida um bom exemplo que deve ser seguido por cá. Jornalista