O 'bling bling' de Blinken em África!

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O Secretário de Estado americano Antony Blinken foi obrigado a um périplo africano, na senda do que recentemente fizeram a sua contraparte russa, Sergey Lavrov e o Presidente francês Emmanuel Macron, que visitaram África em julho. A importância desta visita à África do Sul, República Democrática do Congo e Ruanda é a seguinte, nenhuma. No entanto, Blinken não poderia deixar de a fazer. Porquê?

Porque é imperativo para os americanos não perderem terreno e influência em África para russos, franceses e chineses. Curiosamente estes últimos têm sido os menos espalhafatosos, os mais cautelosos ou pacientes, nunca sabemos, o que no fundo lhes tem trazido os maiores proveitos, capitalizados logo no primeiro semestre do ano.

Porque uma superpotência tem sempre a necessidade de "dar uma no cravo e outra na ferradura", para se algo correr mal ter sempre uma saída airosa. No caso desta visita, praticamente ao mesmo tempo que o Secretário de Estado americano estava na África do Sul a dizer que "Washington não ditará as escolhas de África, nem ninguém deverá fazê-lo", a Embaixadora americana nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, advertia, num "relatório-resumo" de uma também recente visita sua a três países africanos (Gana, Cabo-Verde e Uganda), "os países que se envolvam com países sancionados". Para que não hajam dúvidas, esse "relatório-resumo" disponibilizado à comunicação social, a determinado parágrafo dizia "As nossas sanções contra a Rússia têm a intenção de desencorajar os russos de continuar sua agressão na Ucrânia (...) Eu advertiria (aos países africanos) para não se envolverem com países sancionados, pelos Estados Unidos". Ou seja, Blinken não foi lá fazer nada, mas tinha mesmo de lá ir!

Porque os americanos são aqueles aliados que quando nos abraçam, partem-nos sempre uma ou duas costelas!

Porque estão em pânico com o silêncio chinês, que me parece ser o verdadeiro competidor em África.
Porque este ano há eleições no Quénia, Nigéria e Angola e Blinken precisou de lá ir para este "momento zen", "Washington não tratará a democracia como um assunto no qual a África tem problemas e os Estados Unidos soluções, mas reconheceremos os desafios comuns, para os abordarmos enquanto iguais".

Entretanto, também desta semana vem o grito do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, que começou a cortar no racionamento nos campos de refugiados na Somália, por falta de verba. Apesar disso, esta e a última semana, viram no Continente africano o passeio de três dos homens mais poderosos do Mundo. É só política, como poderia ser só Rockn"Roll!


Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt
Escreve de acordo com a antiga ortografia

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