O big, beautiful pântano trumpista

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Apresentando-se como um outsider desafiador do establishment político, Trump propôs-se “limpar o pântano” [em Washington DC]. 

Na 1.ª Administração Trump (2017-2021) não houve qualquer “limpeza do pântano”. Na atual Administração, o despudor de Trump irrompeu descontrolado, sem qualquer preocupação de colocar um manto diáfano para esconder a nudez forte de corrupção, compadrio, nepotismo e conflitos de interesses. 

Começou com nomeações para lugares-chave no governo. Susan Wiles, a chefe do gabinete presidencial, era senior partner na Ballard Partners e Pam Bondi, a Attorney General, ex-advogada pessoal de Trump e ex-beneficiária de uma generosa contribuição eleitoral da Trump Foundation (para nada fazer em relação à fraude na Trump University), era lobista registada na mesma Ballard Partners, a mais influente empresa lobista em Washington DC, cujos clientes já começaram a colher frutos dos seus serviços junto da Casa Branca. 

O principal financiador da campanha de reeleição de Trump, Elon Musk, foi nomeado para dirigir o D.O.G.E., utilizando o cargo para afastar 5 Inspetores-Gerais de agências que supervisionavam as suas principais empresas – que, desde 2009, receberam c. 20.000 milhões de dólares (M$) de subsídios governamentais – e reduzir significativamente os meios de atuação dessas agências. 

Trump não permitiu a aprovação de projetos de lei proibia e punia a utilização por titulares de cargos políticos de inside information privilegiada para enriquecimento próprio (como vem sucedendo há décadas); apesar de ressalvarem a situação do presidente – eles sabem de que massa ele é feito… 

Entretanto, Don Trump Jr., David Sacks (o “Czar” governamental do setor cripto) e alguns associados e financiadores de Trump e Vance criaram em Georgetown, DC, um clube privado ultra-exclusivo, denominado “The Executive Branch”; com uma jóia de 0,5 M$, facilitará o acesso ao centro de poder trumpista. 

Continuam as negociatas ao fim de semana em Mar-A-Lago e os jantares a 1 M$ / pessoa para quem quiser ter acesso a Trump, a começar pelos barões de criptomoedas. Relembre-se que os produtos cripto – o meme $TRUMP e a stablecoin USD1 –acrescentaram milhares de milhões ao património líquido da sua família. 

Outro florescente negócio Trumpista é o dos perdões presidenciais. O Intelligencer noticia que “burlões fiscais, subornadores e burlões de criptomoedas condenados por fraude têm oferecido até 10 milhões de dólares a lobistas e advogados bem relacionados para os ajudar a obter um perdão”. 

De caminho, Trump mandou gastar cerca de 1.000 M$ em dinheiro público na renovação de um avião que vai manter após deixar o cargo. 

De acordo com uma análise da Bloomberg News, Trump mais do que duplicou o seu património pessoal desde o início da sua campanha de reeleição. Rodeado de yesmen e lacaios, Trump está a criar um novo pântano que faz o anterior parecer um pequeno charco. 

Consultor financeiro e business developer

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