Quando olhamos para o gráfico do valor da produção industrial vendida na Europa, há uma ausência que nos salta à vista: a de Portugal. Seis países da UE geraram 72 % do valor da produção vendida da comunidade económica em 2024, com a Alemanha a registar o valor mais elevado da produção vendida, equivalente a 26 % do total da UE. Logo seguida pela Itália (14 %), França (12 %), Espanha (9 %), Polónia (6 %) e Países Baixos (4 %). Os outros 21 países da UE contribuíram com quotas menores (menos de 3 % e menos). O assunto pode parecer aborrecido, mas venha comigo durante mais um bocadinho, caro leitor. É que o índice de produção industrial (IPI) é um indicador económico mensal que mede a produção real nas indústrias transformadora, mineira, elétrica e do gás. Setores fundamentais para ter uma economia forte, resiliente e sustentável. Não é por acaso que a Alemanha, França e Itália estão também, não raras vezes, entre as economias mais dinâmicas da União Europeia: para conseguir sustentabilidade é preciso apostar em setores que produzam, efetivamente, algo. E nem precisamos de falar de nada estratosférico. Porque se lhe perguntar que eletrodomésticos acha melhores, aposto que há marcas como as alemães Bosch e Miele que lhe vão ocorrer; e não podemos negar a importância da Renault, da Citröen e, mais recentemente, da Dacia, no que se refere à indústria automóvel. De Itália, chegam-nos impérios da moda como a Gucci e a Prada, mas também referências como a Kinder ou a Ferrari. E de Portugal, o que sai para conquistar o mundo? Falamos com orgulho da criação da Via Verde – conseguimos que chegasse a Espanha e pouco mais – do Multibanco ou do MbWay (outras que pouco mais expandiram do que até aos países do lado), mas a verdade é que continuamos sem nada de efetivamente relevante, para a nossa economia, para mostrar ao mundo. O índice de produção industrial nacional, aliás, tem registado uma tendência de queda desde, pelo menos 2021. O que nos devia preocupar a todos. Veio esta reflexão à minha memória devido a umas conversas que tive nos últimos dias, com uns colegas dinamarqueses, que se mostavam particularmente preocupados com a atual situação da Novo Nordisk – a farmacêutica que produz o Ozempic, e praticamente a única fonte de real rendimento para aquela economia. “Esta mania de nos esquecermos que há 100 anos éramos apenas agricultores, ainda nos vai destruir”, dizia-me um deles. O que Jeppe queria dizer, é que facilmente nos encostamos a formas “fáceis” de ganhar dinheiro, esquecendo que elas só contribuem realmente para o desenvolvimento de um país se criarem riqueza a longo prazo. E a criação de riqueza não pode estar assente somente em serviços, que, na verdade, produzem zero. Em Portugal, no ano passado, os serviços corresponderam a 76,5% do Valor Acrescentado Bruto (VAB) da nossa economia e empregaram 72,4% da população ativa. A indústria, a construção, a energia e a água corresponderam a 21,2% do VAB e a agricultura, silvicultura e pescas representaram 2,9% do VAB e 2,7% do emprego. Continuamos a alegrar-nos com o contributo, para o PIB nacional, superior a 22% vindo do setor do turismo e de 1,5% do setor automóvel. E só isto devia fazer soar os alarmes em todos nós.