Numa vida vivemos várias vidas

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À medida que os anos vão passando e ficamos mais velhos é quase inevitável olhar para trás e revisitar tudo aquilo que vivemos e que a memória ainda nos permite alcançar. E é aí que percebemos que temos apenas uma vida, é certo, mas isso é se tivermos em conta somente a data de nascimento e a data da morte. Porque se pensarmos em tudo o que vivemos e em todos os ciclos que se iniciaram e terminaram, aí, certamente, e sem qualquer margem de dúvida, sabemos que vivemos várias vidas.

Temos várias vidas se pensarmos nas diversas fases do desenvolvimento - quando éramos crianças e acreditávamos no Pai Natal e na Fada dos Dentes (sempre me questionei para que quereria ela tantos dentes?) e, depois, já adolescentes, vivendo amores arrebatadores de acabar com qualquer coração mais fraco. Já no início da idade adulta, tantos desafios e receios, num limbo entre querer crescer e, ao mesmo tempo, permanecer na Terra do Nunca. Soma-se o trabalho, as obrigações, as contas para pagar, os amores e desamores, os filhos e os netos. Somam-se tantas vidas…

A época de Natal é especialmente propícia a este tipo de reflexão. Antecipamos os reencontros bons com as pessoas de quem gostamos, da mesma forma que receamos os conflitos familiares - infelizmente, tão frequentes em muitas famílias. Olhamos com tristeza e saudade para os lugares vazios à mesa, outrora ocupados por pessoas que, depois de muitas vidas, partiram então. E no meio de tanta nostalgia, ouvimos os risos inocentes das crianças que ainda acreditam no Pai Natal e nos recordam que também aquela já foi a nossa vida.

A vida é feita de muitas vidas e cada uma delas, por mais que possa não parecer, tem sempre coisas boas e coisas menos boas. Que saibamos aproveitar e saborear as boas e aprender com as restantes. E que essas aprendizagens nos permitam viver as vidas vindouras ainda com mais esperança.

Neste Natal, o meu maior desejo é que se mantenha acesa a vela da esperança. A esperança em cada um de nós e no mundo à nossa volta que, embora cheio de dor e sofrimento, nos ensina todos os dias a ser mais resilientes e a não desistir de acreditar.

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