As revoluções – todas as revoluções – têm um ciclo. Um ciclo que Crane Brinton descreveu em 1965 em The Anatomy of Revolution: Ancien Regime, Tempo dos Moderados, Terror e Thermidor. Brinton exemplifica a sua teoria cíclica com quatro revoluções: a Inglesa do século XVII, a revolução Americana e a guerra da Independência de 1775-1783, a Revolução Francesa de 1789, e a Soviética, de 1917.O ciclo revolucionário português abrilino também obedeceu ao ciclo: Ancien Regime (Estado Novo, na fase final, versão marcelista, 1968-1974); Tempo dos Moderados (25 de Abril-28 de Setembro de 1974), Terror (28 de Setembro 1974, agravado a 11 de Março de 1975, até Novembro), e Thermidor (25 de Novembro de 1975).O golpe militar do MFA, com a bênção tardia spinolista, prolongou-se pelo Verão de 1974 e dividiu-se com a resignação de Adelino da Palma Carlos que, fiel ao patriotismo republicano do Ultimato, da Rotunda, da Grande Guerra e de 1961, não quis ser responsável pela entrega do Ultramar e foi substituído pelo comunista Vasco Gonçalves.No dia 28 de Setembro, acabava o “Tempo dos Moderados” e começava o Terror; um terror de país de brandos costumes. O MFA, com Gonçalves e Otelo, ordenou a prisão sem culpa formada dos opositores que defendiam, em democracia e conforme o Programa do MFA de Abril, uma solução plebiscitária para o Ultramar. E realizou a proeza de, ao fim de seis meses, ter nas prisões da então Metrópole o dobro dos presos políticos que lá estavam no dia 24 de Abril de 1974.Seguiu-se a deriva à esquerda e as provocações sucessivas: o 28 de Setembro acabou, como dizia o Quito Hipólito Raposo, com a “reacção em cadeia” ou “na cadeia”. Para o 11 de Março, previa-se uma “matança da Páscoa”, um boato que grassou nos meios do exílio de Madrid de que estaria a preparar-se a liquidação de centenas de oficiais conservadores para travar a Direita, que estava a vencer as eleições nos Conselhos das Armas. E no mesmo 11 de Março, caindo na provocação, saía o gole spinolista, fora do tempo e dividindo e comprometendo a resistência. Os comunistas aproveitariam a janela de oportunidade para as nacionalizações e as prisões de industriais e banqueiros.E veio a resistência popular, enquadrada pela Igreja Católica e por alguns círculos do exílio. Os comunistas experimentaram, do Minho ao Tejo, o mesmo tratamento que estavam a dar a quem se lhes opunha onde podiam.Mas para o PCP, cuja cúpula era obediente a Moscovo, nunca se tratou de tomar o poder em Portugal, quebrando as regras de Ialta, reconfirmadas em Helsínquia em Julho-Agosto de 1975. Tratou-se, sim, de garantir em Lisboa uma testa de ponte até ao termo da Descolonização, atingido em 11 de Novembro, com a independência de Angola.A partir daí, houve rédea livre para a retirada estratégica, evitando a guerra civil que o Dr. Cunhal sabia que perderia.Assim, no 25 de Novembro, as forças ao PCP ficaram de fora. A contenção da extrema-esquerda militar – que tinha torturado, no RALIS, vários “fascistas”, como Marcelino da Mata – foi obra dos Comandos, especialmente das companhias de “convocados”, os heróis do dia, agora esquecidos na narrativa que, aparentemente glorifica os “Nove” e Costa Gomes.Não tenho saudades dos governos de antes do 25 de Abril. Mas tenho saudades do Portugal menos indiferente à sua sorte e à dos seus compatriotas ultramarinos, menos expedido em livrar-se de responsabilidades seculares, menos corrupto, estagnado, dependente e periférico. Politólogo e escritor. O autor escreve de acordo com a antiga ortografia