Nos últimos dias, tive oportunidade de visitar Cuba, para participar na Bolsa de Turismo Gaviota, o principal evento do setor no país. O encontro reuniu três mil pessoas, incluindo 180 portugueses - entre operadores hoteleiros, agentes de viagens e alguns jornalistas - num momento crucial para a economia do país.Para quem chega de fora, Cuba revela um país de contrastes. A beleza natural, o património cultural vibrante e a simpatia do povo são cativantes. Os cubanos são afáveis, educados e acolhedores, e há uma afinidade imediata com os portugueses. Mas por trás das paisagens e da hospitalidade, há uma realidade que desafia o visitante que faça um esforço para sair da ‘bolha’ dos resorts turísticos: apagões diários que podem durar até 20 horas seguidas, escassez de bens essenciais e outras dificuldades visíveis no quotidiano da população.O turismo é hoje a principal tábua de salvação económica da ilha. A crise agravada pela pandemia deixou marcas profundas: o número de turistas continua abaixo dos níveis pré-2020, a inflação disparou e o poder de compra caiu drasticamente. O embargo americano e as dificuldades de países aliados como a Venezuela e o Irão penalizam também a economia cubana. No mercado informal, um euro vale cerca de 480 pesos cubanos. O salário médio, pago em pesos, ronda o equivalente a 20 euros mensais. Os médicos e outros profissionais qualificados podem receber uma quantia equivalente a cerca de 40 euros por mês. Estes números não contam toda a história, porém, uma vez que o Estado subsidia numerosos bens e serviços e, além disso, a economia informal é omnipresente.Neste contexto, o turismo oferece os melhores rendimentos - não apenas pelos salários, mas pelas gratificações deixadas pelos estrangeiros, em dólares e euros. É comum encontrar guias turísticos e empregados de mesa com formação superior em medicina, engenharia, literatura ou física. Alguns demonstram um conhecimento surpreendente sobre Portugal. E não se trata apenas de conversa para agradar: há um genuíno interesse por culturas estrangeiras, mesmo de países que não enviam turistas para Cuba.Já a política interna é um tema evitado, num país onde a oposição ao regime de partido único não é permitida. Quando a conversa se aproxima desse campo, a resposta tende a ser evasiva, apelando à “paz mundial” e à necessidade de pôr fim ao embargo americano. Este embargo, decretado há quase 70 anos, continua a afetar gravemente a economia cubana, dificultando o acesso a financiamento, o investimento em infraestruturas e a aquisição de maquinaria para fábricas e centrais energéticas. O seu objetivo inicial era provocar descontentamento popular, levando à queda do regime comunista. Porém, acontece o oposto: o bloqueio tem servido para unir a população em torno do castrismo e para justificar problemas que, em muitos casos, se explicam pelas limitações inerentes a uma economia planificada e à ausência de liberdade de iniciativa e concorrência.Apesar destes condicionalismos - e dos dilemas que possam suscitar - o mercado cubano apresenta oportunidades para algumas empresas portuguesas. O setor do turismo, em particular, tem sido alvo de esforços por parte do Estado cubano para estabelecer parcerias com grupos internacionais que tragam turistas, know-how e acesso a financiamento.