A celebração dos 100 anos do nascimento de Mário Soares fez uma parte da esquerda democrática - talvez até a maioria - suspirar pelo passado. É sabido que pessoas com o carisma de Soares são raras e rapidamente nos guiam para a ideia de que já não se fazem homens/mulheres “como antigamente”. Já se sabe também que quando o presente é incerto, é para o passado que olhamos. Ainda há dias o Presidente da República fez isso mesmo, ao exprimir um certo saudosismo na relação institucional com o ex-primeiro-ministro, António Costa..Ora, o grande problema dos atuais líderes políticos é não conseguirem olhar para o futuro (e presente) como o fizeram Soares e outros (Sampaio, Zenha, Cunhal, Sá Carneiro e Freitas do Amaral). Os atuais políticos gerem os assuntos como pescadinhas de rabo na boca. A esquerda (mais uma vez sublinho: a democrática) a gritar e a esbracejar a agenda woke e a direita (também a democrática) a cair na lengalenga da sua extrema com as questões de segurança, entre outros assuntos dignos de séculos passados. São temas demasiados importantes para se discutir destas formas..A segurança de um país não pode ser populista, nem as minorias e imigrantes devem ser tratados de forma panfletária. Numa conversa recente que tive, alguém me disse uma frase que dificilmente esquecerei: “Não se pode exterminar os fascistas matando os fascistas, só se pode exterminar os fascistas pela educação da sociedade, pela educação das mentes e dos comportamentos sociais.”.É isto, senhores da esquerda e da direita! Se não sabem desenrolar o nó em que se meteram, oiçam, conversem, sobretudo fora do aparelho político e da agenda dos spin doctors. Façam Estados Gerais, oiçam a sociedade civil, os trabalhadores, os professores, os empresários. Encontrem ideias em conjunto com aqueles que representam, para que a avaliação dos políticos não se torne na tal conversa de café do “deles” privilegiados e o “nós” a trabalhar desenfreadamente sem ver a vida a evoluir. Editor do Diário de Notícias