Noite de James e Ornatos hoje como há 25 anos
Separam-nos 25 anos desde o primeiro concerto de James que vi no Sudoeste, em 1999. Naquele tempo, para mim, um bilhete de festival era um troféu, significava a emancipação, o tempo em que eu ia, corria com os amigos para o Alentejo, acampávamos no meio do pó e tomávamos banho numa cascata. Era tudo tão simples.
A música era tudo naquele tempo... Insecure, whatcha gonna do? Feel so small they could step on you... Eram tempos de descoberta, especialmente para nós, um tanto ingénuos. Tudo corria sem a loucura do telemóvel, da internet… estávamos isolados, três dias a ouvir grandes hits.
Parece que para mim aqueles instantes ficaram parados no tempo. Ficou-me marcado, e mesmo assim é tão longínquo. É tão fora desta realidade.
O que é mais engraçado é que passaram 25 anos. Eu estou diferente. Muito diferente do que era. Mas James soam da mesma maneira. Há músicas novas, mas há um encontro inequívoco com aquela época. É por isso que ouvimos e repetimos tantos concertos onde já estivemos. É por isso que mergulhamos nas memórias. E foi isso que senti no sábado à noite no Rock in Rio, em Lisboa, onde se vai de Uber e a cerveja já custa 4,2 euros (!), mas aquela voz é a mesma. O concerto deste fim de semana mostrou que esta banda é mítica e merecia o palco principal, merecia ainda hoje ser cabeça de cartaz. Foi o melhor concerto da noite.
Como já se percebeu, não foi pelo que ouvi que me faz ter a certeza de que passaram 25 anos - aliás, até me custa a crer que foram mesmo 25 anos! Eu vivo fascinado pela inteligência artificial e surpreendeu-me no espetáculo a projeção no ecrã ao lado do palco, em que Tim Booth e o resto da banda iam sendo substituídos por figuras futuristas ou mais étnicas, numa última performance.
Espetacular!
Mas houve mais uma coisa que mostrou a distância dos anos. Hoje, o mundo está embebido nos telemóveis, as pessoas estão completamente absorvidas pela tecnologia, pela internet, pelos smartphones.
Booth apelou mesmo à sua audiência: “Não escondam a cara nos telemóveis, mostrem a vossa cara. Mostrem quem vocês são.”
- Show who you are.
Antes, na mesma noite do Rock in Rio, já tinham cantado Ornatos Violeta. Perdoem-me os relatos. Mas foi tão bom. Foi tão bom ouvir. E foi tão bom ver que eles envelheceram como eu, mas que tudo soa ao mesmo dos mesmos 25 anos, ao que sempre ouvimos, ao que sempre quisemos ouvir, ao que gostamos. Foi tão bom.
Lembro-me tão bem de um dia o meu pai, já talvez com uns 70 e poucos anos, me ter dito, assim do nada, que se sentia de cabeça como se tivesse 18. Eu parei, pensei e senti-me surpreendido. Hoje penso nisso e sinto-me feliz, porque, por mais que o corpo avance ao ritmo dos anos, é tão bom respirar o mesmo ar como se estivéssemos a respirar pela primeira vez há 25 anos. É nesse momento que sabemos quem sempre fomos.