Foi publicado na Nature Climate Change um pequeno artigo intitulado “The Political Psychology of Climate Denial”, de Alon Tal e Shlomit Paz, revelando que a negação das alterações climáticas não é fruto de ignorância, mas de uma estratégia política deliberada, sustentada por mecanismos psicológicos que moldam perceções e comportamentos.Os autores explicam que “a persistência e a disseminação da negação não podem ser explicadas apenas por oportunismo político”. Há forças psicológicas que tornam a rejeição da ciência confortável, até “virtuosa”. Entre elas destacam-se algumas dessas forças:· Distância psicológica, que faz parecer que os impactos são longínquos e irrelevantes à nossa vida;· Enviesamento de disponibilidade, que desvaloriza tendências globais quando não há eventos extremos locais;· Dissonância cognitiva e raciocínio motivado, que justificam hábitos ameaçados pela transição climática;· Enviesamento da confirmação, alimentado por redes sociais e “especialistas” alinhados com as ideias anti clima;.· Aversão à perda, que transforma políticas climáticas em supostas ameaças económicas e ao bem-estar atual;.· Ansiedade existencial e identidade social, que tornam a negação um sinal de pertença e defesa psicológica.Este quadro liga-se diretamente aos estudos de Daniel Kahneman, Nobel da Economia, que demonstrou como enviesamentos cognitivos afetam decisões, mesmo entre gestores experientes. Quando confrontados com riscos ambientais, muitos líderes empresariais não escolhem a melhor solução, mas a mais confortável para reduzir dissonância ou evitar perdas imediatas. Como Kahneman escreveu em Thinking, Fast and Slow: “As pessoas não escolhem entre opções, escolhem entre descrições das opções”. E quando essas descrições são manipuladas politicamente, a racionalidade desaparece.O artigo sublinha que “factos isolados raramente mudam opiniões”. Para contrariar a negação, é preciso comunicar melhor, com mensagens locais, vozes credíveis e estratégias que considerem emoções e valores. Caso contrário, a manipulação continuará a minar a ação coletiva.Estas técnicas não são casuais. São instrumentos de poder, usados para travar políticas urgentes e manter narrativas convenientes. Quando a verdade científica é relativizada e a opinião pública é conduzida por vieses emocionais, o risco vai muito além da crise climática – ameaça a própria integridade da democracia.Em jeito de fim de ano, e de equacionar o 2026 que já se avizinha penso ser fundamental não cedermos à tentação de nos alhearmos da sociedade inacreditável, rude e perigosa para onde parece estarmos a caminhar. Se queremos um futuro baseado em conhecimento e responsabilidade, temos de comunicar melhor – mas também limitar a propagação deliberada de mentiras. A liberdade de expressão não pode ser confundida com liberdade para manipular.PhD, CEO da Systemic