Napoleão nu e um Da Vinci, Milão é mais do que o Duomo
Quem entra no pátio da Pinacoteca de Brera, em Milão, não se impressiona só com os arcos do Palazzo di Brera, construído no século XVII para receber o colégio da Companhia de Jesus e que hoje alberga a Biblioteca Nacional, a Academia de Belas Artes e uma galeria de arte. O seu olhar é logo atraído pela enorme estátua de bronze no centro do pátio. Napoleão como Marte, o Pacificador é uma cópia do original de Antonio Canova, que se encontra em Apsley House, a residência dos duques de Wellington, em Londres. Encomendada por Napoleão ao famoso escultor italiano, a estátua acabou por ser rejeitada pelo imperador francês que a considerou “demasiado atlética”.
Para o turista que hoje chega a Milão, o banho de história - e de arte - começa então ainda antes de entrar na Pinacoteca. Mas não diminui o valor do que vai ver no interior: Caravaggio, Tintoretto, Piero della Francesca, Bellini e muitos outros génios da pintura italiana, como um talvez menos famoso Francesco Hayez cujo quadro O Beijo ficará também na memória de quem ali o descobre.
É verdade que ir a Milão e não ver o Duomo, a catedral em estilo gótico, ou não passear pela galeria Vittorio Emanuele II, com as suas lojas de luxo, é quase uma blasfémia. Mas a capital da Lombardia é muito mais do que aquela praça onde só os pombos disputam o espaço com os turistas.
Podia falar de comer uma pizza numa esplanada tranquila longe das multidões ou de beber um Aperol a ver passar os habitantes locais, sempre elegantes, mas focando-me na arte, Milão exige também uma visita à outra Pinacoteca, a Ambrosiana. Se como eu não marcou com antecedência para ver A Última Ceia - a fragilidade dos frescos de Da Vinci na Igreja de Santa Maria delle Grazie limita as visitas a grupos pequenos - pode deliciar-se desde logo com o magnífico edifício mandado construir por Federico Borromeo, cardeal de Milão, no início do século XVII para receber a sua coleção de pinturas, desenhos e esculturas. Hoje, as 24 salas acolhem obras-primas de Ticiano, Boticelli ou Brueghel. Não deixe de dedicar algum tempo e atenção ao desenho preparatório para a Escola de Atenas, a obra-prima que Rafael pintou no Palácio Apostólico do Vaticano. Mas o melhor fica mesmo para o fim, com a visita a terminar na Biblioteca, onde se encontra o Código Atlântico de Da Vinci, com os seus 1750 desenhos técnicos e científicos. E na sala anterior, pode apreciar, sem as multidões que rodeiam uma Mona Lisa, Retrato de um Músico, outra das pinturas do génio do Renascimento.
Tudo boas razões para passar uns dias em Milão... e sem precisar sequer de estar sempre a ir à praça do Duomo.
Editora-executiva do Diário de Notícias