Na greve geral uma resposta humana à desumanização do trabalho

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As declarações desesperadas de Luís Montenegro sobre aumentos futuros do salário mínimo e do salário médio mostram com clareza duas coisas. Uma, que o Primeiro-Ministro sabe como e quanto a sua política ataca e degrada as condições de vida dos trabalhadores e do povo em geral. Outra, que o Primeiro-Ministro está preocupado com a resposta que lhe vai ser dada com a greve geral no próximo dia 11 de Dezembro.

Não querendo mudar de política e mantendo a sua posição de defesa de interesses antagónicos aos interesses dos trabalhadores e do povo, resta ao Primeiro Ministro tentar parar o vento com as mãos com declarações desesperadas como aquelas que fez.

Essas declarações revelam ainda a importância da greve geral em si e de todo o trabalho que tem sido feito em torno da sua realização, com a mobilização dos trabalhadores a partir das suas reivindicações concretas e da resposta às suas necessidades.

A convocação da greve geral trouxe à superfície problemas e dificuldades com que os trabalhadores se confrontam no dia a dia. Em muitas circunstâncias, trata-se de problemas e dificuldades que andam longe da agenda mediática, apagados pelos critérios que fazem da espuma dos dias questões de destaque e relegam para a invisibilidade aquilo que é verdadeiramente relevante.

Precariedade laboral, desregulação e aumento dos horários de trabalho, ameaças de despedimento, desarticulação entre a vida profissional e familiar, condicionamento no exercício de direitos laborais e sociais, desvalorização das carreiras, fragilização dos direitos laborais consagrados na contratação colectiva, são algumas das muitas preocupações que atingem a vida de milhões de trabalhadores portugueses.

Por detrás dessas dificuldades há uma política que as gera. Uma política de benesses e privilégios para os grandes interesses económicos que está ao serviço dos seus objetivos de acumulação de lucros. Uma política que faz dos trabalhadores uma peça descartável de uma engrenagem de exploração e das suas vidas um rosário de desigualdades, misérias e agruras.

O Primeiro-Ministro sabe que a sua política desumaniza o trabalho e quem trabalha e se torna cada vez mais insustentável para quem dela é vítima.

Sabe que a convocação da greve geral permitiu já alcançar uma primeira vitória com a centralidade e visibilidade pública que deu aos problemas vividos pelos trabalhadores.

Sabe que há na sociedade portuguesa uma noção clara desses problemas vividos na primeira pessoa pelos trabalhadores mas também por quem é indirectamente atingido pela exploração e pela degradação das condições de trabalho, nomeadamente no acesso aos serviços públicos.

E o Primeiro-Ministro pressente que a greve geral constituirá uma poderosa resposta dos trabalhadores na rejeição dessa política que tem no pacote laboral uma das suas peças mais perversas mas que se estende por muitas outras questões e áreas da vida nacional.

A greve geral é dos trabalhadores e há-de contar com a solidariedade geral do povo português. É bom que o Governo dela retire as lições que deve retirar.

Eurodeputado

Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico

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