Médio Oriente – um Guia para a ratoeira – um sapo por engolir!

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"O algodão não engana”, resume o que o meu radar captou, relativamente ao ataque israelita a Doha, da semana passada. O algodão analisado, veio sujo de informações que denunciam a agenda de um arguido e não uma razão de estado!

Atacar território soberano, previamente designado para a discussão do processo de paz, é querer continuar a guerra!

Atacar um aliado americano, sem o agrément do mesmo, é a faísca para a zizânia regional. Todos, à excepção do Irão, são aliados americanos e há que evitar a todo o custo, mal-entendidos diplomáticos baseados nos silêncios. Por isso mesmo, desde ontem decorre em Doha uma conferência árabe-islâmica, na procura de uma resposta comum e adequada.

Dar luz verde a uma operação desta envergadura e alcance, após o Chefe da Mossad e o CEMGFA israelita, terem manifestado os seus “vetos” ao objectivo/modus operandi da mesma, confirmam prioridades políticas de um Primeiro-Ministro (PM) que depende das imunidades que perderá, caso o actual governo deixe de existir!

Este é o ponto, qual é a ratoeira?

O “silencioso Qatargate”, que passa de raspão no PM israelita, através dos dois, por sinal, mais próximos conselheiros, Jonatan Ulrich e Eli Feldstein, pode apenas ser a ponta do iceberg, dos circuitos dos dinheiros, que poderão provar que, todos se compram a todos, logo, todos terão contas por ajustar e “todos poderão atacar todos, num cenário de impasse mexicano”!

Acrescentar o leverage xiita, que vai sempre capitalizar com um todos-contra-todos, no seu próprio quintal!

Qual é o sapo?

Assumir a Arábia Saudita enquanto força regional centrípeta que unifica, mais que divide. Em última análise tem os lugares santos “enquanto Vaticano”, que imporão a hierarquia.

Assumir os Acordos de Abraão enquanto veículo possível para os equilíbrios regionais e perceber que a adesão da Arábia Saudita, liderando o bloco sunita da Península que ainda falta, trará a força de diluir Israel num “continente árabe”, quando as percepções deduzem exactamente o contrário.

Por fim, ter presente que o “Pacote Faseado dos Acordos de Abraão”, foi o último acto de Política Externa da Administração Trump (2016-2020), em setembro de 2020! No actual contexto, de uma “nova-velha-Administração-velha-conhecida”, e sabendo-se que permissiva ao “veludo do elogio e aos cabedais dos Califas”, seria metafísico e oportuno que surgisse a iniciativa de organizarem um beija-mão à Casa Branca, com a convicção que um acordo, só acontecerá com um novo governo em Israel. Um preço justo, para uma operacionalização plena de Abraão, e alimentar em Trump um vislumbre de consagração internacional!

Politólogo/arabista

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Escreve de acordo com a antiga ortografia

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