Que Carlos Moedas é um daqueles políticos para quem os fins justificam todo e qualquer meio, não é novidade alguma. Já todos fomos testemunhas dos momentos de apropriação abusiva do legado dos seus antecessores para, com isso, colher benefícios eleitorais. Nada que se estranhe, até porque, autarca que não tem obra para mostrar, tem mesmo de parasitar o trabalho alheio para se pôr em bicos de pés perante o eleitorado. Porém, esse não é o problema maior com que temos de lidar quando falamos de Carlos Moedas. O que a última semana confirmou, para quem ainda pudesse ter dúvidas sobre a natureza do seu carácter, é que a decência é qualidade que não lhe assiste. A forma execrável como tem tratado a tragédia do Elevador da Glória é, no mínimo, uma abjeção. Incapaz de assumir responsabilidades políticas que no passado exigiu a outros, como se não fosse ele, como Presidente da Câmara de Lisboa, o responsável máximo pela Carris, Moedas mostra a sua verdadeira essência pantomineira. É isso que faz, por exemplo, ao apelar a que ninguém procure tirar proveito político da tragédia, quando ele não faz outra coisa de cada vez que aparece nas televisões procurando seduzir os ingénuos com as suas lágrimas de crocodilo. Mas pior foi o que este domingo fez na entrevista televisiva que concedeu para, mais uma vez, sacudir a água do capote das responsabilidades. Além de um exercício absoluto de cobardia e de uma rasteirice ignóbil, ousou caluniar a memória de Jorge Coelho insinuando que este, aliás, mentindo descarada e deliberadamente, só se tinha demitido na sequência da queda da ponte de Entre-os-Rios porque ao seu gabinete teriam chegado “informações sobre problemas de manutenção naquela ponte”. Carlos Moedas, como todos os farsantes, sabe que está a mentir. Aliás, o País inteiro sabe que Moedas falta à verdade, uma vez que Jorge Coelho, ao contrário do que fez o ainda autarca de Lisboa, demitiu-se, com decência e com coragem, nessa mesma madrugada funesta porque, afirmou então, “a culpa não pode morrer solteira”. Moedas só não leva com um desmentido categórico porque Jorge Coelho, infelizmente, já cá não está para se defender. Mas Moedas fez mais. Insultou a Alexandra Leitão chamando-lhe cínica e dissimulada, ofendeu Pedro Nuno Santos, o ex-Secretário-Geral do PS, e Eurico Brilhante Dias, o atual líder parlamentar, apelidando-os de "sicários" (assassinos contratados). Ora, em política não pode valer tudo, muito menos.A sua permanente e deliberada confusão entre a Cidade e a sua pessoa, numa espécie de visão absolutista inspirada em Luís XIV e no seu dito apócrifo “L’État, c’est moi” – a paráfrase de Moedas será, naturalmente, Lisboa sou eu –, configura uma prática que suscita a maiores dúvidas no plano democrático, ético e moral, mas também ao nível da legalidade, nalguns casos já demonstrada, comprovada e, até, determinada pelas instâncias próprias.Ainda há poucos dias, tardiamente é certo, a Comissão Nacional de Eleições determinou a remoção da propaganda “coiniana” (derivação do inglês coins, Moedas em português), por considerar que os painéis publicitários digitais da Câmara Municipal de Lisboa estavam a ser usados para promoção da coligação “Por Ti, Carlos”, perdão, Por Ti, Lisboa. Os dias vão passando, e Carlos Moedas ignora a ordem da CNE ao manter a publicidade abusiva nos painéis, desrespeitando deliberadamente uma instituição do Estado de Direito e “financiando”, de forma alegadamente ilegal, a sua campanha com os recursos públicos da câmara municipal. E, pior, põe os seus escudeiros a caluniarem adversários políticos, com recurso, uma vez mais, à cobardia, à ignorância e à má-fé. Desde logo, o ilustre Presidente da Junta de Freguesia de Santo António, Vasco Morgado, que foi para as redes sociais dizer que o Presidente da CNE era do PS e que por isso a decisão tinha motivação partidária. Em primeiro lugar, a CNE é sempre presidida por um juiz de um tribunal superior que, por definição legal, está impedido de ter partido. E depois, como é público e notório, a maioria dos eleitos pela Assembleia da República nesta comissão é, imagine-se, do PSD. Na mesma semana desta deliberação, ficaram o País e a Cidade a saber pela comunicação social que, em mais um exercício de uso e abuso do poder, Carlos Moedasserviu-se de meios da Câmara Municipal de Lisboa para a publicação em 2024 de um livro sobre si próprio. Recorreu a assessores e adjuntos pagos pela autarquia, usou o espólio fotográfico do município, pôs ao seu serviço equipamentos que pertencem à cidade para fotografar, filmar e divulgar a “obra” de cujos proveitos foi beneficiário. Do ponto de vista ético e político, creio que ninguém tem dúvidas de que estamos perante uma situação absolutamente imoral e que não pode deixar de ser censurada e denunciada. No plano jurídico, não sendo eu jurista, remeto-me apenas ao que é de senso comum. A comprovar-se o que a comunicação social revelou e que ninguém desmentiu ou contestou, podemos estar, alegadamente, perante a prática, repito, alegadamente, dos crimes de abuso de poder e de peculato por parte de um titular de cargo público. Mas isso, o Ministério Público que faça o que lhe compete e investigue o que deve ser investigado.Para Carlos Moedas, ser presidente de câmara não é uma vocação, mas um sacrifício. Servir a comunidade não é um privilégio, mas um frete. O exercício do poder autárquico não é uma forma de promoção da Cidade e dos Lisboetas, mas de autopromoção e de propaganda pessoal para atingir outros voos. É por isso que Carlos Moedas se comporta como uma espécie de caudilho que usa e abusa do poder que lhe é conferido pelo voto popular para única satisfação dos seus objetivos pessoais. Todos estes casos e exemplos mostram que Carlos Moedas deixou de ser digno do mínimo respeito. Parafraseando o adágio popular, fica provado que quem nasceu para ser pequenino nunca chegará a estadista. Candidato da Coligação Viver Lisboa à Assembleia Municipal de Lisboa