Com a revisão da legislação laboral proposta pelo Governo, voltam a soar as campainhas dos direitos e deveres das pessoas em contexto de trabalho. A proposta contempla muitas alterações, com o objetivo de flexibilizar, promover a competitividade da economia e a produtividade. Algumas das medidas mais criticadas, aparentemente, dificultam a conciliação do trabalho com a vida pessoal, em especial, a família. Alguns exemplos são a questão da obrigatoriedade de atestado para o horário de amamentação e a sua limitação temporal ou a mudança do luto gestacional, em particular para os pais. Segundo dados da Eurostat, Portugal trabalha em média mais horas por semana do que a média Europeia, mas apresenta uma menor produtividade, medido através do PIB per capita, em comparação aos mesmos países. Em 2025, as medidas para flexibilizar, promover a economia e a produtividade já deviam de estar além de reter as pessoas horas a fio no seu trabalho. Os dados demonstram que mais horas não implica mais produtividade. Os estudos mostram que há fatores muito mais importantes para o desempenho do que a carga horária. A prática evidencia-nos o mesmo. É possível estar 12 horas, 5 dias por semana ou até ao sábado, no escritório ou ligado ao trabalho, e não terminar tarefas ou cumprir objetivos. Como também é possível trabalhar 35 horas semanais, ter benefícios ajustados ao ciclo de vida e ter um desempenho excelente. É fácil perceber qual é o cenário que mais entusiasma para trabalhar e que tem um maior potencial de crescimento. Flexibilizar, criar novos formatos de trabalho, melhorar as medidas de conciliação trabalho-vida pessoal não é só ser cuidadoso com o colaborador, é ser inteligente na gestão das equipas. Atualmente a maioria dos trabalhos são extremamente cognitivos e nós, humanos, temos limitações. Não é viável estar concentrado horas indetermináveis, logo não justifica reter as pessoas no trabalho. Antes pelo contrário, é estimulá-las para que consigam aportar valor. É dar espaço para que se realizem pessoalmente, que desenvolvam competências, que voltem a estudar e que descansem. A produtividade não aumenta com pessoas cansadas, frustradas, sem capacidade de inovar e tomar melhores decisões. Por outro lado, a sensação de perda é sempre superior à de ganho. Algumas das medidas até podem ser positivas como a diminuição do período experimental para o primeiro emprego ou os contratos a termo com o mínimo de um ano. No entanto, o foco será sempre a sensação de perda de um direito já conquistado. Se queremos um Portugal mais competitivo e produtivo, então é preciso sermos mais ambiciosos e largarmos as âncoras de um modelo de trabalho antiquado e pouco flexível, que não vê a pessoa, mas o código associado. Quando o conseguirmos, ganhamos todos: pessoas, organizações e sociedade. Psicóloga Organizacional