"A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) número três de 2022 revoga o inciso VII do artigo 20.º da Constituição e o terceiro citado do artigo 49.º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para extinguir o instituto do terreno de marinha e seus acrescidos e para dispor sobre a propriedade desses imóveis”..Quem haveria de imaginar que um parágrafo escrito pelos funcionários públicos do Senado Federal do Brasil num politiquês com sotaque cerradíssimo, como este aqui de cima, se transformaria numa discussão de rede social entre celebridades com direito a ofensas e palavrões, como estes dois aqui debaixo..“Ele é um péssimo cidadão, péssimo exemplo como pai e péssimo exemplo como homem, como marido, como companheiro, e esse estrupício ainda por cima só fala m....!”, disse a atriz Luana Piovani sobre o jogador de futebol Neymar..“Acho que soltaram a porta do hospício e soltou uma louca aí (...). Tem que enfiar um sapato na sua boca porque só fala m....”, contrapôs Neymar sobre Piovani..É que quando aquele texto inicial, cheio de incisos e disposições constitucionais no tal politiquês radical, fala em “extinguir o instituto do terreno de marinha” está, no fim das contas, a propor a privatização de praias num país rodeado de mar por quase todos os lados e tão desigual que uma ida a banhos ainda é das raras coisas que o pobre pode fazer sem se sentir excluído..Em rigor, os “terrenos de marinha” que a PEC pretende extinguir correspondem a uma faixa que começa 33 metros depois do ponto mais alto que a maré atinge. Ou seja, esses terrenos não abrangem a praia e o mar, região que continuaria pública, e sim a camada anterior, onde ficam geralmente hotéis e bares..“Porém, o projeto possibilita que uma empresa cerque o terreno e impeça a passagem de banhistas na faixa de areia, como já é visto hoje em alguns resorts”, explicou Ana Paula Prates, a diretora de Oceano e Gestão Costeira do Ministério do Meio Ambiente, ao site G1..Mais controverso do que aparentava, aquele texto hermético ganhou então o noticiário político, até porque o Partido dos Trabalhadores, de Lula da Silva, se manifestou contra “a PEC das Praias”, como o denominaram na imprensa, e o senador Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente e relator da proposta, é um dos seus mais enérgicos defensores..É nessa altura que entra em campo Neymar, que se declarou favorável à PEC por causa de uma parceria que estabeleceu com uma construtora para criar um condomínio de luxo, ao longo de 100km entre Alagoas e Pernambuco, que deve gerar 7,5 mil milhões de reais [cerca de 1,3 mil milhões de euros] de lucros..A seguir, sobe ao palco Luana Piovani, indignada com a posição do atleta do Al Hilal, da Arábia Saudita..Já depois da briga, surgiu uma onda na internet com palavras de ordem como “menos Ney e mais Mar” e organismos oficiais e especialistas avulsos citaram na imprensa questões ambientais, sociais, legais e de segurança nacional para votar contra a PEC..“As áreas afetadas pela PEC são pilares essenciais para a soberania, o desenvolvimento económico e a proteção do meio ambiente”, disse a própria Marinha do Brasil..Por causa dos ventos desfavoráveis, Rodrigo Pacheco, o presidente do Senado, anunciou então que engavetaria a PEC, para tristeza de Neymar, de Flávio Bolsonaro e dos donos de resorts - mas alegria dos demais brasileiros.