Médicos & monstros

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O pneumologista e influencer sanitário, Filipe Froes recebeu milhares de farmacêuticas enquanto andou, simultaneamente, a recomendar o uso dos produtos dessas mesmas empresas. Foi o antigo jornalista Pedro Almeida Vieira que, prestando um verdadeiro serviço público, investigou e denunciou este caso (e vários outros) nas redes sociais, revelando quer a actual debilidade de muito jornalismo quer o viço de outros meios (que por isso também são tão atacados).

Certo é que Filipe Froes é só mais um flop, um flip flac desta narrativa da covid pejada de conflitos de interesses, incompatibilidades e opacidades (basta lembrar a inadmissível ocultação dos contratos das farmacêuticas com a União Europeia - pagos pelos contribuintes). Além do Dr. Frosques, desfilam por aí muitos Simas e Mexias que desprezam a destrinça entre pronunciamento público e publicitário. É triste e sintomático do tipo de sociedade em que nos encontramos que não tenham sido os próprios a assumir as suas ligações partidárias, os seus patrocínios. Ou seja, o Governo e a comunicação social promoveram estas figuras como especialistas, como independentes, imparciais, neutros, puros cientistas (como se isso fosse sequer possível), quando, na verdade, muitos não passam de assalariados, peões, lobistas, vendilhões do medo e duas pílulas, ou até mesmo lacaios de outras grandes forças. Ou seja, recebendo financiamentos privados, jamais podem representar o bem público, o tal bem comum, e tão-pouco emitir opiniões isentas. Ou se defende um interesse particular ou se defende o interesse de todos. Sucede que num país como Portugal, com tão pouca cultura de transparência e prestação de contas, com tantas fragilidades económicas, ainda para mais altamente pressionado para o tal unanimismo sobre a covid, a lisura e a honestidade estão moribundas. Estas personagens ora acham-se a salvo de escrutínio, impunes, ora estão deslumbradas pelo vil metal e pela sede de protagonismo. Até se admite que cientistas recebam apoios das farmacêuticas e claro que qualquer profissional de saúde ou influencer sanitário pode ter simpatia ou militância partidária. O que Dr. Jekyll & Mr Hyde não podem fazer é escondê-la e apresentarem-se publicamente como virginais, imaculados, verdadeiros eunucos da medicina. Sucede que, como é notório no caso Froes, a ética morreu. RIP. Por isso, depois de receber quantias avultadas de empresas e dar a opinião nos media favorecendo essas mesmas empresas, em vez de pedir desculpas e ter suspendido a sua participação em organismos públicos (como a Comissão Técnica Nacional de Vacinação), o pneumologista veio dizer que está tudo ok porque recebeu esse dinheiro legalmente, desdenhando na rectidão e na moral, ou como se a opinião pública agora não interpretasse as suas posturas de outra forma. Demita-se!

Por fim, lembre-se que Froes recebeu também da farmacêutica do Remdisivir e andou meses nas televisões a elogiá-lo, contribuindo para que se firmasse o respectivo contrato público de 20 milhões. Ou seja, estamos perante uma densa teia de interesses e hoje pode afirmar-se que muitas posições públicas e movimentações desde março de 2020 em nada estiveram relacionadas com a saúde pública. Até que ponto?

Psicóloga clínica. Escreve de acordo com a antiga ortografia.

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