Costa entregou o Governo à agência de comunicação e agora somos governados por Paixão Martins. Não há aumentos nas pensões. Afinal há aumentos nas pensões. O IVA não desce. Mas desce. A dívida é a prioridade. Só que já não é. Ora, isto tem uma explicação. Chama-se eleições. Criadas por Marcelo..Presidente, pode haver eleições? Pode. Mas deve? Não. Mas vai? Talvez. Se pode e talvez vá, é provável? Não é certo. Então depende de quê? É difícil elencar uma só razão. E quando? O mais tarde possível. Mas isso é antes ou depois das europeias? Só os factos o dirão..Lembram-se dos ciclos eleitorais onde se faziam as reformas em três anos e as benfeitorias no último? Impossível agora. O Governo está nas mãos de um Presidente que é o centro da galáxia. O genial Marcelo, na sua recusa de um papel menor face a uma maioria absoluta, solta diariamente o pânico enquanto se queixa da inação de um Governo catatónico face à velocidade com que os ventos da opinião mudam..Isto tem um método. À semana, aqui e ali, o Presidente inaugura e visita, beija e abraça, e aí comenta tudo o que lhe interessa para os telejornais da hora do jantar. À sexta conhecemos via Expresso o resumo da semana - na versão narrada normalmente por Ângela Silva. O fim do Governo é afinal cada vez mais provável. A página poderia chamar-se countdown da dissolução..E tem um fio condutor. Três manchetes recentes. 14 de outubro do ano passado: "Não pensem que me vou fechar no Palácio". 6 de Janeiro: "Marcelo dá um ano a Costa para salvar legislatura". 6 de Abril: "Marcelo recusa visitar mais obras PRR com Costa". O Governo agoniza..Ao domingo à noite, o tom muda. Espalhado o caos, Marcelo apanha os cacos e refaz o seu país imaginário. É o Presidente na versão sensata, ponderada, institucionalista, na visão do seu conselheiro de Estado favorito, António Lobo Xavier, desta vez na CNN Portugal. E assim, tudo o que concluímos à sexta não é exatamente assim ao domingo..De qualquer forma, seja em que versão for, Marcelo manda. Ele sabe e influi, do macro ao micro. A sua agenda é a agenda do país - e vice-versa/vice-versa. Nisso aprendeu certamente muito com o seu amigo Ricardo Salgado. Quem diz não ao telefonema do Presidente?.E Marcelo, que não é conhecido por ter dado o corpo ao manifesto em cargos executivos que o levassem a experimentar o erro, tem então a certeza de quem sempre distribuiu pareceres/comentários infalíveis, além de vichyssoises. Daí que Costa, que finta com o pé esquerdo, mas joga mal com o direito, tenha ido buscar um trinco para a equipa: um guru dos média para organizar sistemáticos estudos de opinião e sugerir medidas populares. Objetivo: enfrentar o diabo (como diria Passos). Neste caso, as eleições antecipadas..E assim Medina passou de guarda-redes do défice a ponta-de-lança do crescimento e do IRS desagravado, ainda que considerado em fora-de-jogo pelo VAR Mário Centeno. Pedro Nuno Santos foi expulso, a equipa joga com menos muitos, mas pior: o enfant terrible meteu num avião da TAP a credibilidade do PS e deixou o aparelho embater contra o Largo do Rato, fazendo dos 50 anos do PS uma comemoração tão desejada quanto um velório de um amigo..Podemos sentar-nos à frente dos canais de notícias com pipocas e vibrar com os mil e um debates sobre um jogo de resultado incerto. A verdade é que estamos a cometer o mesmo erro de sempre: perder tempo precioso. O país tem de se focar na mudança e votar em 2026 sobre o que fazer a seguir. Se este princípio se quebrar, a estabilidade é um conceito varrido do mapa. Não ficaremos melhor sem ele..Jornalista