'Make America normal again'
O princípio geral da nova ordem republicana é que, géneros, há só dois, e são determinados biologicamente - uma clara regressão civilizacional que promete devolver os norte-americanos às bárbaras origens da Humanidade e à realidade que lhes é “atribuída à nascença.”
Interrompendo brutalmente a marcha de progresso, da “Ciência” e da imaginação, Donald Trump não perdeu tempo em revogar conquistas que vigoravam desde Outubro de 2021, como o passaporte inclusivo que tinha como terceira opção o género X, reservado a “pessoas não-binárias, inter-sexo” ou que “não se reconhecessem” nos “critérios propostos” (os trogloditas F e M). Também na competição desportiva se retrocedeu, com os homens biológicos transexuais a serem fobicamente impedidos de competir nos desportos femininos (a fim de devolver às atletas o acesso aos pódios).
Mas bem mais séria e importante é a “Executive order” de 28 de Janeiro para “proteger as crianças da mutilação química e cirúrgica”; um decreto presidencial que intima todas as agências e serviços federais a adoptarem as medidas necessárias para que instituições que recebam fundos federais destinados a “gender affirming medical care” de menores de 19 anos deixem de os receber.
São medidas radicais para pôr fim a programas radicais, em que a ânsia de progresso e a promessa de que materialmente, cientificamente, cirurgicamente, se podem operar milagres identitários, construir paraísos na Terra e alcançar a felicidade justificam todas as mutilações, esterilizações, enxertos, degredos, mortes e silenciamentos.
Também por cá se foram aprovando, por acordos partidários de conveniência, qual rebuçado dado à esquerda radical, programas destes. Tudo “rumo ao progresso” e financiado pelos contribuintes e por Bruxelas.
De resto, Trump, na campanha eleitoral, tinha sido bem claro sobre o que pensava fazer e desfazer nestas matérias.
Claro que, como também seria de esperar, “a Resistência” - como agora pomposamente se autodenominam os inimigos de Trump - reagiu: a American Civil Liberties Union já veio processar o presidente em nome da organização nacional de defesa da comunidade LGBTQ+ e da PFLAG (Parents, Families, and Friends of Lesbians and Gays) e propor a anulação da executive order, invocando que é ao Congresso que cabe regular os fundos federais.
Sem menosprezar a força das burocracias instaladas quando acossadas com a perda de um subsídio, não parece, entretanto, que “a Resistência” vá ter muita sorte. Além da quase ausência de procedência em matéria jurídica, os danos irreversíveis causados por estas mudanças de sexo são hoje públicos e notórios nos EUA. As conclusões do estudo de 2024 da PMC PubMed Central, Risk of Suicide and Self-Harm Following Gender-Affirmation Surgery não deixam margens para grandes dúvidas quanto ao (geralmente silenciado) aumento do suicídio, da automutilação e do PTDS (Pos-Traumatic Stress Disorder) no seguimento da chamada “cirurgia de redesignação sexual ou transgenitalização”.
A jornalista do Wall Street Journal Abigail Shrier, no seu best-seller de 2021 Irreversible Damage: The Transgender Craze Seducing Our Daughters, também já tinha alertado as feministas, os americanos e o mundo para a especial vulnerabilidade das raparigas à “nova tendência” de uma “redesignação sexual” divulgada e tornada acessível.
Perante isto e os custos psicológicos, físicos, pessoais, sociais e financeiros destes processos (150.000/200.000 USD) compreende-se que a Administração Trump tenha passado à acção. Outra coisa não seria de esperar. Quando se quer que a América se torne grande outra vez talvez seja preciso começar por torná-la normal outra vez.
Politólogo e escritor
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia