Mais vale gerir do que remediar

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Cada geração encara o dinheiro de forma própria. Se os baby boomers e a geração X cresceram a valorizar a poupança, os millennials viveram a transição para um mundo mais incerto e a gen Z já nasceu num ambiente digital. Os contextos mudaram, contudo, a ambição é intergeracional: garantir segurança e autonomia financeiras.

Os baby boomers, atualmente em idade de reforma ou prestes a alcançá-la, desenvolveram a sua relação com o dinheiro num tempo em que “guardar debaixo do colchão” era praticamente literal. Muitos conseguiram comprar casa cedo e a estabilidade representou o seu maior investimento, tendo sido também a primeira geração a aderir a cartões de débito/crédito. O desafio atual, no entanto, é outro: proteger as poupanças face à inflação e lidar com a pressão dos sistemas de pensões, ao mesmo tempo que se adaptam às novas ferramentas digitais de gestão financeira.

Entretanto, a geração X optou pela segurança de uma conta-poupança e o investimento numa casa. Geralmente, tendem a manter uma ou duas contas principais e raramente mudam de banco, pois priorizam soluções previsíveis em detrimento da procura constante pelo mais barato que caracteriza os mais novos, conforme indica um inquérito de 2023 do GOBankingRates.

Por outro lado, os millennials, que nos seus primeiros anos de mercado de trabalho enfrentaram a recessão da pós-adesão ao Euro de 2002-2003, a crise financeira de 2007-2008 e a profunda recessão de 2012, tiveram de aprender a lidar com o equilíbrio entre a ambição e a realidade. Entre rendas elevadas, dificuldades no acesso ao crédito habitação, salários que nem sempre acompanham o custo de vida, enfrentam a complexidade de conciliar independência com instabilidade económica. Em 2024, mais de 65% dos jovens portugueses ganhavam menos de mil euros líquidos mensais, segundo um estudo do SINLab, com coordenação do Instituto Universitário de Ciências da Saúde (IUCS-CESPU), e mais de metade viviam de salário em salário, de acordo com um outro estudo, de 2025, da Deloitte.

A gen Z, por sua vez, cresceu com um smartphone na mão e carteira digital. Apesar de valorizarem sistemas rápidos e sem burocracia, terem múltiplas contas e compararem taxas em busca das melhores condições, muitos ainda não possuem literacia financeira suficiente para planear a longo prazo. Acresce a dificuldade em poupar quando a renda de um quarto consome quase um salário inicial.

Não obstante as diferenças, a incerteza é transversal a todas as gerações. Enquanto uns receiam reformas insuficientes, outros suportam dívidas ou empregos precários. Em maior ou menor grau, a ansiedade financeira tornou-se transversal.

Esta diversidade, porém, gera oportunidades. Cabe às entidades competentes desenvolverem o aumento dos níveis de literacia financeira na sociedade, começando, por exemplo, com a introdução de matéria dedicada à mesma desde o ensino básico, que, aliás, é uma medida que 94% dos portugueses apoia, de acordo com o mais recente estudo da Nickel, em parceria com a Data E.

Investir na educação financeira desde cedo prepara os cidadãos para tomar decisões mais informadas sobre poupanças, investimentos e créditos, bem como contribui para reduzir desigualdades e promover uma cultura de responsabilidade económica. Paralelamente, é essencial garantir que a gestão das finanças do dia a dia seja acessível a todos. Nesse sentido, soluções digitais simples, transparentes e intuitivas desempenham um papel fundamental ao permitir que pessoas de diferentes idades e níveis de literacia digital possam gerir o seu dinheiro de forma autónoma, segura e sem complexidade.

No final, cada geração deve integrar diferentes competências e experiências, de forma que cada uma aprenda com as outras a gerir melhor os seus recursos financeiros, em vez de apenas remediar erros passados. Esta postura pode transformar a instabilidade em resiliência e confiança e, assim, acrescentar valor e equilíbrio às gerações futuras.

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