Há quem ainda insista em ler os resultados eleitorais com os mesmos olhos para todas as eleições. Ainda não percebeu o povo português, obviamente.Nunca se deve comparar eleições de natureza diferenciada, mas sim as anteriores da mesma natureza: autárquicas com autárquicas, legislativas com legislativas e assim sucessivamente. Aparenta ser um exercício básico e evidente, mas não tem sido perpetrado pelos analistas. Veja-se o erro de, em vésperas de legislativas, menosprezarem o Chega porque as europeias não foram tão avassaladoras como esperavam. Resultado: 60 deputados. A comparação agora tem de ser feita, obviamente, com as autárquicas anteriores. E, como é mais do que evidente, o Chega cresceu exponencialmente.Mas este texto não é focado nesse cálculo. Este texto é para alertar o quão longe estão as elites políticas - algumas - da realidade quotidiana e presente das pessoas. Ricardo Leão foi o melhor exemplo dessa percepção. Contra muitas vozes do seu partido - o PS - com destaque para Alexandra Leitão, fez o diagnóstico, a análise e aplicou as acções mais correctas sobre os problemas que o seu município, o de Loures, vive. Deu prioridade às queixas da população que mostravam uma realidade diferente da ideologia. A prática, por vezes, está longe da teoria. Não se importou com o quase linchamento público de que foi alvo pelos seus “camaradas” de partido. Enfrentou as eleições sozinho e, resultado: foi um dos grandes vencedores das eleições. E porquê? Porque fez política de proximidade mediante o seu público-alvo, os eleitores de Loures. Não o público que aplaude no Largo do Rato.Alexandra Leitão fez exactamente o oposto: dizia que era moderada, mas foi coligar-se com a extrema esquerda. Uma extrema esquerda falida, ideologicamente vazia e demagógica. Quem vive em Lisboa está farto de palavras, quer acção que lhe resolva os problemas, não frotilhas no Tejo. Está saturado de quem ataca os opositores, carregado de fel, e esquece de dar concretas propostas de resolução desses problemas. Alexandra não só foi extremista, juntou-se a mais extremistas e fez uma campanha de maledicência, focada em deitar ora Carlos Moedas, ora João Ferreira, abaixo, em vez de se focar em fazer a diferença. Tinha muito material para isso, não o soube aproveitar. Resultado: teve menos votação com a coligação do que os partidos todos juntos relativamente aos valores das últimas autárquicas. Ela que olhe para o seu colega em Loures e tire as conclusões. A primeira parece-me óbvia: mais Leão, menos Leitão. Professora auxiliar da Universidade Autónoma de Lisboa e investigadora (do CIDEHUS). Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico