Mais do que ter um sorriso bonito, é preciso manter uma boa saúde oral
A saúde oral é essencial para o bem-estar e para a integração social das pessoas. É mais do que ter um sorriso bonito. É ter uma boca saudável que permita falar, provar e transmitir emoções sem dor e desconforto. A saúde oral é, por si só, uma parte essencial do bem-estar da saúde geral e tão importante como os restantes cuidados médicos gerais. É o cartão de visita que todos temos como mais valioso, é o passaporte para que qualquer interação seja bem-sucedida. É a porta de entrada do nosso corpo e relaciona-se direta ou indiretamente com todos os outros sistemas e respetivos órgãos.
Hoje assinala-se o Dia Mundial da Saúde Oral e, com ele, deveremos reforçar a importância que a saúde oral tem, pois é muito mais do que uma questão estética. As doenças orais têm um impacto muito significativo na nossa vida, podem afetar o relacionamento interpessoal, a autoconfiança e até o prazer em apreciar uma boa comida. Podem levar ao isolamento social, fazer com que se evite rir e sorrir pela aparência dos dentes e pela perceção que os outros possam ter dos cuidados que temos com a saúde oral.
Mais ainda, as doenças orais podem aumentar o risco de desenvolver diversos problemas de saúde mais graves - por exemplo, a doença periodontal pode aumentar o risco de diabetes, doença cardíaca, cancro do pâncreas e pneumonia. Por isso se torna tão relevante manter a boca saudável, já que é crucial para o bom funcionamento e manutenção da saúde geral. O ponto de partida para uma boa saúde oral está na prevenção e nos cuidados diários de higiene oral, na realização de rastreios e na ida regular às consultas de higiene oral, pois só por esta via se conseguirá manter sempre a boca saudável e, consequentemente, o bom funcionamento e a manutenção da saúde geral.
Recentemente, um estudo de um grupo de investigadores portugueses da Escola de Saúde e Ciência da Universidade Egas Moniz alertou precisamente para a existência de uma relação entre as doenças da boca e as doenças sistémicas e apela a medidas de prevenção. A investigação, publicada na revista Nature Communications, mapeou uma relação direta de infeções na boca, provocadas por falta de higiene oral, com 28 doenças sistémicas, entre elas a diabetes e a doença inflamatória do intestino.
Numa altura em que ainda metade dos portugueses (50,2%) afirma não se deslocar ao médico dentista, ou, quando o faz, fá-lo menos de uma vez ao ano, de acordo com os dados VII Barómetro de Saúde Oral de 2022, é importante que a sensibilização junto da população para a saúde oral seja cada vez maior e, nessa medida, é necessário criarem-se oportunidades para que mais pessoas possam aceder a melhores cuidados de saúde oral como, por exemplo, o acesso a rastreios onde possam ser feitos os despistes necessários e o devido encaminhamento para as consultas necessárias.
A Medicina Dentária percorreu um longo caminho nos últimos anos, sobretudo ao nível dos cuidados preventivos, do uso de tecnologia e dos tratamentos mais conservadores, realidade que tem possibilitado aos médicos dentistas estarem mais bem equipados para ajudar as pessoas a manter uma boa saúde oral. Sem dúvida que, nos últimos anos, um dos maiores desenvolvimentos neste ramo da Medicina tem sido a valorização dada aos cuidados preventivos. É nossa prioridade, enquanto médicos dentistas, ajudar os pacientes a manter uma boa saúde oral, através da realização de exames e de check-ups regulares e, também, sensibilizando-os e educando-os para a importância de manter bons hábitos de higiene oral. Ao nível do tratamento, a Medicina Dentária tem dado, igualmente, passos muito importantes no uso de tratamentos mais conservadores. Hoje, e em vez de extrair um dente que esteja danificado, o dentista pode salvar esse dente através do processo de desvitalização, preservando, assim, o dente natural e evitando a necessidade de procedimentos mais invasivos, como os implantes dentários.
E vivendo nós em plena era tecnológica, a Medicina Dentária tem visto progressos muito significativos nesta área. O acesso a uma ampla gama de ferramentas e equipamentos avançados como, por exemplo, as radiografias digitais, têm permitido diagnosticar e tratar os problemas ao nível da saúde oral com maior precisão, eficiência e rigor. Atualmente, a classe médica tem usado a tecnologia de projeto e de fabricação assistida por computador (CAD/CAM) para criar restaurações provisórias e definitivas personalizadas, como coroas e próteses, de maneira mais precisa e mais rápida e totalmente alinhada com a dentição original.
Mas, apesar destes avanços registados nos últimos anos, ainda existem muitos desafios para a Medicina Dentária e um deles, talvez o maior, é o acesso dos doentes a estes cuidados. Por isso, facilitar o contacto da população com o profissional de saúde oral em formatos como os rastreios são a melhor forma de levar estes cuidados a todos, educando cada pessoa sobre a importância dos hábitos de higiene oral e da autoavaliação que poderão, com a ajuda médica dentária, salvar muitos sorrisos.
Médico Dentista. Chief Medical Officer e Chief Operations Officer da Lusíadas Dental