Maioria absoluta. Não há segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão!

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António Costa estabeleceu a fasquia para a maioria absoluta que em breve começará a governar o país. Tirar Portugal da cauda da Europa onde, atualmente, se encontra e onde ficará se as coisas não se alterarem.

Não são animadoras as previsões do FMI para Portugal, se nada acontecer no domínio da modernização do país. Até 2026 desceremos onze lugares no ranking mundial do PIB per capita se nada mudar.

Para que isso não aconteça são conhecidas as soluções. É necessário aplicar no país uma receita reformista que nos liberte dos constrangimentos que nos têm asfixiado. Reorganizar o SNS, atrair capital estrangeiro através da fixação de novas empresas de modo a criar mais postos de trabalho, agilizar e modernizar a máquina do Estado, encurtar os tempos de espera dos processos judiciais na Justiça, baixar a carga fiscal para as pessoas e as empresas, apostar numa educação moderna a de qualidade, continuar o percurso das novas energias, eólica e solar, prosseguir o caminho da formação profissional do universo dos trabalhadores e técnicos, apoiar as pequenas e médias empresas, onde reside grande parte da riqueza nacional.

Não é tarefa fácil, mas também ninguém espera que os governos tenham tarefas fáceis. Os tempos são desafiantes e há nuvens negras no horizonte. Inflação, subida das taxas de juro, a perspetiva de uma guerra na Europa, a energia a subir de preço, descontroladamente. Com este panorama as coisas não parecem fáceis. Mas o desafio aí está! Esta é a quarta maioria absoluta (de partido único) que vamos viver. Duas de Cavaco Silva e uma de José Sócrates. Há contudo um traço comum a estas três realidades de maioria absoluta que já conhecemos. Todas elas tiveram agendas reformistas e todas elas geraram situações de enorme tensão social. É natural! Quando um governo pretende introduzir elementos de modernização na sociedade, há sempre forças e interesses estabelecidos a quem isso não interessa. Há também uma tendência de os governos agirem com um "posso, quero e mando". Vivemos isso com Cavaco Silva, e o "deixem-me trabalhar" ou " não vejo televisão nem leio jornais", quando o líder de então do PSD era colocado perante evidências mais incómodas por parte dos jornalistas. A luta dos estudantes contra as provas globais do ensino secundário (geração "rasca", lembram-se?), as lutas dos polícias por melhores vencimentos e direitos sindicais (os "secos e molhados"), o bloqueio da Ponte 25 de Abril contra o aumento das portagens, são recordações desses momentos de tensão social. De Sócrates, o "animal feroz" estará tudo dito sobre as tentativas de controlo da comunicação social e os caminhos tortuosos em que se meteu. Mas Cavaco Silva e Sócrates, contra ventos e marés, conseguiram fazer reformas.

Cavaco Silva dotou o país de uma moderna rede de autoestradas, modernizou o tecido industrial, possibilitou a abertura de canais privados de televisão, o país cresceu economicamente. Sócrates estabeleceu metas ambiciosas. Criou as Novas Oportunidades, o Simplex, colocou a fasquia da criação de 150 mil novos postos de trabalho, a redução de 75 mil funcionários públicos, o objetivo de não aumentar impostos, e uma meta de 3% para o crescimento. Ninguém pode acusar Cavaco e Sócrates de não terem tido espírito reformista.

Esta quarta maioria absoluta tem todas as condições para modernizar Portugal. Não há desculpas! A "gerigonça está morta e enterrada", há uma vontade de todos os setores da sociedade portuguesa de iniciar um caminho de reformas, o fortalecimento de novas forças políticas como a Iniciativa Liberal, que têm na sua agenda medidas de modernização do país. O PSD, apesar de derrotado, fez da mudança a bandeira da sua campanha eleitoral. Assim, o governo que em breve vai nascer, se tiver sucesso, poderá ficar para a história como o executivo que tirou o país da cauda da Europa e evitou a estagnação. E António Costa ganhará o estatuto de estadista.

Mas se o próximo governo não conseguir o objetivo a que se propõe, António Costa ficará na história, apenas, como o político habilidoso que inventou a "geringonça".

Jornalista

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