Macron reforça "história de amor" com Portugal

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Em fevereiro de 2022, num jantar de gala no Palácio do Eliseu, em Paris, Emmanuel Macron elogiava, diante do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, a “história de amor entre Portugal e França”. Quatro meses mais tarde realizava a sua última visita a Portugal para a Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos. Mas foi em 2018 que tive oportunidade de conhecer o presidente francês, quando veio a Lisboa participar, com o primeiro-ministro António Costa, num encontro com cidadãos sobre a Europa do qual fui moderadora e que teve lugar na Gulbenkian, e em que se falou muito em francês.

Descontraído e bastante à-vontade com aquele que é hoje o presidente do Conselho Europeu, Macron brincou nos bastidores por ser “injusto, vocês vão perceber tudo o que se vai dizer e eu não”, numa referência à francofonia de Costa - e à minha -, e no final ainda arranjou uns minutos para responder a umas perguntas, já a caminho do carro, inclusive a uma provocação sobre futebol, uma vez que França acabara de vencer o Mundial de futebol depois de, dois anos antes, ter perdido o Europeu para Portugal.

Esta quinta-feira Macron voltou a Portugal, para uma visita de Estado que o trouxe a Lisboa e o leva na sexta ao Porto. Depois de uma cerimónia nos Jerónimos, da ida ao Palácio de Belém, onde foi recebido por Marcelo, do encontro com o primeiro-ministro Luís Montenegro e de uma passagem pela Assembleia da República, ainda antes de seguir para o CCB, o chefe do Estado francês declarou-se “muito feliz” pela assinatura do tratado bilateral de amizade, garantindo: “Há amizades que não se quebram.”

É, no entanto, um Macron a viver um momento bem diferente do que conheci em 2018 o que agora veio a Portugal. Se na altura o presidente francês - eleito em 2017, seria reeleito em 2022 - estava no auge da popularidade, hoje só 25% dos franceses o dizem “bom presidente”. Mas com a França em crise política desde que ele convocou Legislativas antecipadas em 2024 - o governo de Michel Barnier caiu ao fim de três meses e o de François Bayrou já enfrentou seis moções de censura -, Macron procura recuperar fora de portas o prestígio que oito anos no poder desgastaram dentro.

Numa semana que começou com a ida do presidente francês a Washington para um encontro com Donald Trump, Macron chegou a Portugal numa altura em que, como descreveu o diário Le Monde, “multiplica esforços na cena nacional, europeia e transatlântica, numa tentativa de afrouxar o controlo americano-russo sobre a Ucrânia, de fazer ouvir a voz da Europa e de evitar a subjugação do Velho Continente.”

O jornal resume: “As crises são o combustível de Emmanuel Macron, e a Europa é o seu trunfo.” Mas na “história de amor” entre França e Portugal, que tanto deve aos nossos emigrantes, não parece haver crise à vista.

Editora-executiva do Diário de Notícias

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