Macron em Argel e Portugal no "Grande Jogo" do Mediterrâneo Ocidental!

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O Presidente (PR) francês, Emmanuel Macron, aterrou ontem em Argel iniciando a segunda visita oficial ao "hexágono magrebino" enquanto PR (2017 e 2022), que terminará amanhã, sábado. O programa da visita inclui um natural tête-à-tête com o seu homólogo argelino, Abdelmadjid Tebboune, uma visita à Grande Mesquita de Argel e uma escala em Oran, a mais ocidental das grandes cidades do Império Otomano.

A conversa com o PR Tebboune terá em cima da mesa a polémica dos vistos (a França de Macron, autora de um corte de 50% na concessão de vistos a argelinos em setembro passado, mantém-no). Outra polémica, trata-se da questão da memória, das perspectivas históricas e historiográficas de ambos os países, mas com o ónus todo na Argélia que aguarda uma verdade sobre si própria, ditada e validada pelo ex-colonizador. Macron cometeu umas gafes neste particular, durante a campanha eleitoral e precisa de se retratar em privado, de homem para homem, de PR para PR, para com o líder dos ofendidos. Este é o principal "irritante" entre França e Argélia, a memória, a História, o passado recente. A segurança no Sahel ganha cada vez mais importância na relação entre ambas as repúblicas, já que nas contas da França, antes do golpe de estado no Mali de agosto de 2020, a saída progressiva das tropas francesas iria sendo substituída pelos argelinos, verdadeiros detentores dos códigos locais. A acontecer o regresso ao Sahel de fardas argelinas, será agora sob batuta russa e não francesa. A França não pode perder esta frente e por isso mesmo a importância do tema gás natural, nesta breve visita.
A guerra na Ucrânia, o corte de fornecimento do gás russo à Europa, recentrou a importância da Argélia e do seu gás para a Europa, enquanto alternativa. O rumor diplomático que corre, é que Macron apresentará a Tebboune uma proposta de constituição de troika que inclua Espanha, Argélia e Marrocos sob iniciativa Francesa, para a resolução do assunto "Sahara Ocidental" e do conflito Marrocos/POLISARIO. O momento actual é de corrida silenciosa ao reconhecimento do plano marroquino de autonomia para as províncias do sul, sendo o próximo mais provável a fazê-lo a Alemanha. Ora a França quer contrariar isso e poderá apresentar a seguinte proposta: Fornecimento exclusivo de gás argelino à Europa, pelos vários terminais marítimos que projecta construir, em troca de um "reconhecimento pacífico" e em bloco da União Europeia do plano marroquino de autonomia para o Sahara integrado no reino. É aqui que Portugal entra no "grande jogo" do gás argelino, já que o Chaceler alemão disse ainda este mês que gostaria de ver Sines a bombar para toda a Europa central, num projecto antagónico ao francês, sendo que a França já disse não autorizar a passagem/construção de tais gasodutos vindos da Península, pelo seu território.

Duas estratégias de duas lideranças europeias, sobre um mesmo problema. A França privilegia a entrada do gás na Europa pela trasfega nos seus terminais marítimos, enquanto a Alemanha privilegia essa mesma entrada por Sines, aproveitando primeiro a proximidade ao "Magrebe útil" e depois a excelente malha de gasodutos espanhóis, que rasgariam os Pirenéus e seguiriam em auxílio dos mais frios Europa afora.

Nós estamos no meio, já que finalmente o Eixo Argel/Paris/Berlim, passa por Lisboa e Madrid. Que hajam unhas para tocarmos esta guitarra!


Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt
Escreve de acordo com a antiga ortografia

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