Longe. A Portela?

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Um aeroporto para substituir a Portela ou Portela+1? Passos Coelho e António Costa optaram pela opção +1, o Montijo. Mas o Montijo tem a oposição da câmara local, uma unanimidade de críticas ambientais (exceto as da Agência Portuguesa do Ambiente) e acrescenta um risco de colisão com aves mais elevado do que em qualquer outra localização - ali próximo existe uma das maiores reservas de avifauna da Europa.

Quando Pedro Nuno Santos e Hugo Mendes decidiram por despacho Montijo + Alcochete, deram o tom do novo pensamento socialista: fim da Portela, Montijo provisório, e finalmente Alcochete. Descontando o absurdo de se construir, para depois destruir, o Montijo - ideia típica de cabeças socráticas -, Alcochete apareceu de imediato como uma parceria estratégica do PS com a geringonça. Bloco, PCP e Livre apoiaram de imediato, mesmo sacrificando o ambiente para manter os votos de uma importante base eleitoral, a Margem Sul.

Pedro Nuno Santos montou o plano. Escolheu Rosário Partidário, engenheira de ambiente, para liderar a Comissão Técnica Independente, apesar de ter feito parte da equipa de estudos de Alcochete na era Sócrates. Percebeu-se, entretanto, que o núcleo duro desta equipa tem o mesmo ponto de partida do ex-ministro: a Portela é para fechar por causa do ruído e impacto ambiental. (Veja-se as declarações da especialista aeronáutica Fátima Vivian no É ou não É, RTP1, há umas semanas). O mesmo pensa o grupo de associações ambientais portuguesas sobre o tema: feche-se a Portela - sem dizer o que fazer a seguir. Nesse sentido, Galamba limita-se a seguir a rota traçada por Costa e Pedro Nuno Santos.

A questão, no entanto, permanece a mesma: os lisboetas e o turismo querem acabar com um aeroporto no centro de Lisboa? Fernando Medina nunca escolheu um dos lados da questão. Carlos Moedas igual. E sobretudo agora, que está em curso a mudança de paradigma da aviação (com aeronaves mais silenciosas e menos poluentes), desativamos a Portela em 2035 como deu a entender o ministro Galamba?

Escolher um aeroporto é obviamente difícil. Durante 50 anos não tivemos dinheiro e a União Europeia não financia aeroportos. Finalmente agora é possível tomar uma decisão porque o turismo explodiu e as taxas aeroportuárias permitem à ANA pagar o Montijo ou, ao consórcio Barraqueiro, o de Santarém. No entanto, o governo parece insistir nos oito mil milhões de Alcochete quando há alternativas sem custos públicos para um aeroporto complementar.

O "longe" sobre Santarém é igual a confirmar o fecho da Portela. E o "longe", sempre medido a partir do Terreiro do Paço, é por vezes "perto" de muitos outros pontos do país. Além disso, há já uns séculos que as distâncias são medidas em tempo, não apenas em quilómetros. E, mesmo como aeroporto único, fosse Alcochete ou Santarém, meia hora de comboio de Lisboa seria perto - e idêntico. É o tempo de deslocação normal por ferrovia em qualquer cidade da Europa. E o transporte certo. Não o táxi.

Mas o ponto não é esse. Ficar com a Portela permite manter o aeroporto... em Lisboa. A zero quilómetros. Isto numa altura em que a tecnologia diminuirá progressivamente o ruído e a poluição na cidade. Além disso, o hub da TAP pode manter-se ali. E se existir um aeroporto complementar para aliviar voos em Lisboa (manhã, noite, frequência), a vida na capital melhora, enquanto o Estado central não impede o crescimento do país noutras regiões, ainda por cima pago por fundos privados.

Entretanto, com Santarém, passa a existir um aeroporto "perto" de Lisboa-Norte, Oeste e Centro do país. Com apoio robusto ao turismo e às low-cost, também Beja poderia servir o Alentejo e a Costa Vicentina, Comporta-Tróia e até a Península de Setúbal. Note-se: Alcochete fica a 120 km de Beja. Demolimos Beja? Dos quatro aeroportos em Portugal continental, três ficariam a sul do Tejo: Alcochete, Beja e Faro.

Um aeroporto complementar em Santarém custaria zero ao Estado, garantem os promotores. Acessos novos: zero euros. A alta velocidade ferroviária pode passar ali, sem fazer a Linha do Norte ir para a outra margem. A par disso, a ANA cumpriria a sua obrigação de melhorar a Portela - e mantendo-a em funcionamento, não se atiram 500 milhões para o lixo. Ainda assim, queremos concentrar tudo em Alcochete? Porque há também a questão do nosso tempo: uma extraordinária destruição ambiental na Margem Sul - com logística, imobiliário de raiz para os milhares de funcionários ali a instalar, além do impacto de acessos dedicados exclusivamente à nova infraestrutura.

Nenhuma escolha tem mais impacto do que um aeroporto na Margem Sul. O maior manancial de água limpa da Península Ibérica, em Alcochete, e o ecossistema do montado, são ativos estratégicos num país a caminho da seca e desertificação. Nenhuma geração futura nos perdoará esta destruição. Acreditamos realmente na crise climática ou na hora da verdade decidimos como se vivêssemos no século passado? Tendo noção de que qualquer aeroporto novo é uma obra de grande impacto ambiental, o Portela+1, com Santarém, é financeira e ambientalmente a menos má das opções. Estamos à espera de que provem o contrário.

Jornalista

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