Kahneman: 5 perguntas sobre a tua liderança!

Porquê dois sistemas de pensamento? Melhor, o que significa isto para que possas liderar de forma consciente por via do teu pensamento? Significa, antes de mais, uma honestidade intelectual a toda a prova. Porquê? Porque o desafio não está em simplesmente reconheceres a existência destes sistemas, mas, antes, em dominares a passagem entre a tua intuição e a tua análise, especialmente quando a intuição exige ação imediata e a análise sugere todos os cuidados. Se pretendes uma liderança eficaz deves saber quando silenciar as tuas inclinações para agires em piloto automático e quando deves dar espaço à reflexão profunda. Deves perguntar-te: quão frequentemente as tuas decisões estão reféns do conforto da intuição, evitando a reflexão? Esta é a primeira questão que se deve fazer “em modo” Kahneman.

Depois, e em segundo lugar, como te afetam as heurísticas e os vieses? Sabes por Kahneman que estás programado para cometer erros sistemáticos. Reside aqui o desafio de cultivares uma consciência clara sobre os teus próprios preconceitos e os da tua equipa. Promoveres a objetividade pode parecer uma aspiração nobre, mas enfrentares e corrigires esses vieses exige de ti um confronto diário com a tua própria natureza falível. Faz-te pois a pergunta: como os vários viezes e heurísticas te estão a afetar, a ti e à tua equipa?

Em terceiro lugar, pergunta-te como geres a aversão à perda? Como líder deves agir enquanto arquiteto de mudança, mas como avançar sabendo que cada passo que dás pode ser visto como um potencial prejuízo? Superar essa resistência exige-te mais do que compreensão (e auto-compreensão, não comiseração); exige-te a habilidade de reestruturares a narrativa de mudança para transformares medos em oportunidades.

A teoria das perspetivas e o excesso de confiança são outras duas vertentes que contribuem para testar fortemente a tua liderança. Moldas decisões sem manipulação e equilibras confiança com humildade? Esta seria a quarta questão. Uma questão composta mas que, de outra forma, passará também por perguntares quantas vezes enquanto líder distorceste a realidade por via do otimismo, apenas para enfrentares resultados que não só desafiam as tuas expectativas mas, também, expõem a tua vulnerabilidade?

Finalmente, a quinta, quando conseguiste encorajar o pensamento contrário? E quando conseguiste aceitar, de bom grado, o papel do acaso, focando-te no bem-estar e entendendo a importância da memória na experiência bem como a tomada de decisão em regime de incerteza?

Todas estas questões encerram ferramentas; são espelhos que refletem as tuas grandes forças e fragilidades. E o convite é para liderares não pelo lado fácil ou confortável mas pelo que é necessário e verdadeiramente eficaz. Liderar com a consciência de que cada decisão carrega o peso de tua complexidade humana. Precisando tu, mais que nunca, de auto-conhecimento.

Nota final: estas cinco questões são um tributo a Kahneman que nos deixou recentemente. Daniel Kahneman foi prémio nobel da Economia.