Justiça e telemóveis. Dois temas para refletir

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O 3 de julho de 2025 vai, em princípio, entrar para a História de Portugal. Pela primeira vez um antigo primeiro-ministro deverá sentar-se num tribunal para responder por vários crimes, por exemplo, de corrupção ou branqueamento de capitais. José Sócrates será um de duas dezenas de acusados no processo conhecido como Operação Marquês, cujos pormenores pode ler nas páginas 6 a 9.

Todo este processo poderá dar um belo enredo para um filme, ou uma série de várias temporadas, tantas foram já as voltas e reviravoltas que sofreu.

Como todos os acusados são inocentes até prova em contrário, vamos deixar para o tribunal a decisão sobre se as acusações são comprovadas ou se tudo não passou de uma cabala contra determinadas personalidades da vida política e empresarial nacional.

Também para a história, mas no setor da Educação, pode ficar a decisão do Governo em avançar com a proibição do uso de telemóveis nos 1.º e 2.º ciclos, tanto nas escolas públicas como privadas.

Uma decisão que, na minha opinião, é importante e visa diminuir a dependência que muitos desses alunos têm em relação aos ecrãs, acabando por não manterem uma relação saudável com os colegas. Como qualquer professor ou auxiliar pode facilmente comprovar, as crianças passam o tempo de recreio de telemóvel em punho em vez de aproveitarem esse tempo para brincar. Ao ponto de muitos nem saberem o que isso é. E, neste ponto, talvez seja bom recorrer a uma das várias frases que o professor de Educação Física Carlos Neto tem vindo a dizer ao longo os anos: “A brincadeira pode ser a resposta para a maioria dos males.”

Esta decisão do Ministério da Educação, Ciência e Inovação parece-me acertada, mas também me deixa dúvidas sobre a forma como poderá ser implementada, principalmente em escolas ondem além do 1.º e 2.º ciclos, existe o Secundário. É que para os alunos deste não há proibição, portanto os mais jovens vão estar no recreio a ver os mais velhos a usarem o smartphone e, como parece óbvio, vão querer imitá-los.

Como o ministério enviou um e-mail à comunidade educativa a pedir contribuições para a simplificação e digitalização dos procedimentos diários nas escolas, pode ser que nas respostas também surja a proposta de aumentar o alcance da proibição anunciada.

Editor executivo do Diário de Notícias

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