Isto está assim tão mau?

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A julgar pelas notícias, a resposta à pergunta em título só podia ser: “Não! Está pior!”. Não passa um dia sem que na saúde, na educação, na justiça, na segurança sejam relatados novos casos, enquanto os meios de comunicação social (MCS) se envolvem numa “race to the bottom”, patente na parafernália deprimente dos detalhes, ainda assim incapazes de competir com a sordidez das redes sociais.

Esta deriva pode ser analisada por vários ângulos, desde a responsabilidade social dos MCS, até às eventuais soluções para os problemas identificados (admitindo que estão bem caracterizados), passando pela comparação com o que se passa noutros países. Neste último plano, uma leitura de algumas publicações de outros países, da Espanha aos EUA, passando pela generalidade dos países europeus, encontra referências regulares à habitação, à saúde e à segurança. Um destes dias, por exemplo, o Financial Times dedicava um artigo à fuga dos jovens para outros países devido ao alto custo da habitação e às poucas oportunidades de emprego. Pormenor: especulava-se que iam para os Emiratos ou EUA; mas, a fonte citada indicava que as prioridades eram Espanha, Irlanda e… Portugal! E esta?!

Quanto às soluções, o paradigma é consabido: faltam recursos. As coisas, afinal, até estariam bem, assim houvera mais meios. A pretexto do realismo, pede-se o impossível. Reformar? Palavra proscrita! Às reivindicações corporativas juntam-se os populistas e, quando se acorda, vemo-nos confrontados com uma solução salvífica, de um ditador mais ou menos benevolente, individual ou coletivo, consoante seja de direita ou esquerda. E, contudo, quando vamos a ver, o nosso SNS está na média europeia, faltam enfermeiros, mas não médicos. E na educação, se temos um orçamento abaixo da média da OCDE, gastamos mais per capita. E… Ou seja, as coisas não são a preto e branco. São precisas análises mais sofisticadas, que contrastem e conjuguem visões distintas, com uma preocupação operativa. A sua divulgação, numa linguagem clara e acessível, seria uma manifestação de responsabilidade social dos meios de comunicação SOCIAL… Para pior, já basta assim!

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