Inundações "bíblicas" e furacões "monstruosos" no horizonte. É o clima, senhores, é o clima

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Pela segunda vez em duas semanas, Espanha está em alerta máximo devido ao mau tempo. Depois das cheias que fizeram mais de 200 mortos em Valência, um novo temporal, com chuvas torrenciais, levou as autoridades a colocar várias regiões em alerta vermelho para evitar a catástrofe que se abateu sobre a comunidade valenciana, onde ainda se procuram corpos e limpa a lama. 

Enquanto isso, em Baku, os líderes mundiais estão reunidos para a COP29. Pelo menos alguns, porque grandes nomes como os chinês Xi Jinping, o americano Joe Biden, o indiano Narendra Modi, mas também o alemão Olaf Scholz ou o brasileiro Lula da Silva parecem ter tido algo mais premente na agenda do que esta Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. 

Um sinal de que, mesmo nos casos em que o ambiente é uma preocupação, a urgência em agir não é muita. E nos EUA a perspetiva é que venha a piorar, uma vez que o presidente eleito Donald Trump já deixou claro que mal tome posse, em janeiro, voltará a tirar a América dos Acordos de Paris sobre o Clima. O homem que considera as alterações climáticas “um grande embuste” já tirara o país do acordo de 2015 no seu primeiro mandato e promete agora dar novo fôlego aos combustíveis fósseis. 

Mas voltando à COP, há também quem por lá tenha alertado para a urgência de agir. Como o primeiro-ministro grego. “Não nos podemos focar tanto em 2050 a ponto de esquecermos 2024. Precisamos de mais recursos para nos prepararmos para responder a tempo, salvar vidas e meios de subsistência e ajudar as pessoas e comunidades a reconstruírem-se após uma catástrofe”, disse Kyriakos Mitsotakis. 

Afinal, basta olhar à volta para perceber que o clima está a mudar e as consequências não vão chegar dentro de 20, 30 ou 50 anos. Já estão aí. Agora é Espanha que enfrenta cheias, mas em setembro foi a Europa Central - Polónia, República Checa, Roménia, Áustria e Itália. Os incêndios voltaram a matar este ano em Portugal, na Grécia os fogos numas regiões coincidiram com cheias noutras, enquanto nos EUA e Canadá as chamas devoraram enormes áreas de floresta. 

Um relatório da ONU divulgado no mês passado avisa que o mundo está “na corda bamba”. Defende uma redução de 42% das emissões anuais de gases com efeito estufa até 2030 e de 57% até 2035 para manter viva a meta de 1,5 °C do Acordo de Paris. Mas pode não ser suficiente para travar o cenário apocalíptico que o secretário-geral da ONU traçou. António Guterres acredita que o recorde de lançamento de gases nocivos provoca “temperaturas recordes do mar impulsionando furacões monstruosos”, que o calor recorde está “a transformar as cidades em saunas” e a causar chuvas intensas, responsáveis por “inundações bíblicas”.

Aqui ao lado, a fúria e desespero levaram os valencianos a lançarem lama contra o primeiro-ministro e contra o rei que os visitavam. Certo é que terá chegado o momento de exigir respostas dos líderes mundiais. Não pintando paredes ou lançando tinta contra obras de arte como alguns jovens ativistas parecem acreditar. Mas pedindo ação a quem governa. Já. Antes que seja tarde de mais. 

Porque desta vez a lama engoliu Valência, mas em qualquer momento pode fazê-lo do lado de cá da fronteira. A chuva, essa, já chegou.

Editora executiva do Diário de Notícias

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