Não vou comentar as fabulosas afirmações do senhor primeiro-ministro sobre a mirífica relação entre a contrarreforma laboral “Trabalho XXI” e as pretensas subidas miraculosas dos salários mínimos e médios. Elas falam sobre si mesmas, sem necessidade de comentário.Também não vou comentar as hilariantes afirmações da senhora ministra do Trabalho, a doutora Maria Palma Ramalho, sobre o Código do Trabalho e como este estava desequilibrado contra as empresas! Quiçá fruto da senhora ministra se mover em círculos sociais associados à gestão de grandes empresas e a uma novilíngua em que muito é subordinado à remuneração dos acionistas, poderá ter olvidado, por momentos, que o Código do Trabalho é de autoria de um governo de maioria PSD/CDS de 2003 e foi revisto 26 vezes desde aí.Esta semana vou-me atentar apenas às declarações do Dr. Luís Montenegro de que a Greve Geral fora marcada por motivações políticas, deduzindo-se que a CGTP e a UGT estariam ao serviço de interesses da oposição.Confesso que eu, incauto, até há cerca de uma década fui crédulo em relação a estas narrativas da alegada dependência de centrais sindicais em face a determinados partidos políticos. Narrativa, contudo, que não resiste a uma observação mais atenta. Como exemplo, veja-se, por todas, como o pouco simpático, mas eficaz, Dr. Mário Nogueira lutou, em plena geringonça, contra o congelamento do tempo dos professores, contrariando os desejos do partido de onde era dirigente e subordinando este ao interesse da classe profissional que representava.Agora nesta greve geral temos algo de extraordinário: pela primeira vez os sindicatos independentes declaram uma greve sob a égide da União dos Sindicatos Independentes – USI. A primeira greve geral da USI nos seus 25 anos de história. E o número avassalador de sindicatos independentes (e rigorosamente apartidários) que aderiram a esta greve mostra que o descontentamento é generalizado e que o senhor primeiro-ministro não tem razão. Todo o mundo laboral, incluindo os trabalhadores sociais-democratas e os sindicatos independentes, está contra esta contrarreforma laboral. Pela primeira vez a senhora ministra do Trabalho conseguiu que todas, mesmo todas, as centrais sindicais repudiassem esta sua tentativa de redesenhar as relações de trabalho. É feito digno de registo!Porque de uma coisa estamos certos. Com esta contrarreforma laboral, os despedimentos coletivos e extinções de postos de trabalho vão disparar, a classe média será dizimada, as ruas encher-se-ão de sem-abrigo e os jovens emigrarão mais, muito mais, do que o fazem agora. Presidente do SNQTB