Igreja Católica e os Portugueses
É facto bem conhecido e atestado pelas estatísticas europeias que Portugal é um dos últimos países europeus fortemente apegados à religião, sendo que em muitos outros, incluindo a Irlanda anteriormente bastião do catolicismo, são hoje as pessoas sem religião que constituem o maior número.
Era pois de esperar que a Igreja Católica dedicasse uma atenção especial ao nosso país, de forma a preservar o respeito e a devoção de tantos portugueses. Mas em vez disso a Igreja Católica, abusando da confiança que os portugueses lhe outorgam, recusa-se a desvendar os crimes de abusos sexuais cometidos pelos seus padres e monges dando-lhes, assim, uma proteção imerecida. Desta maneira parece querer-se transformar a Fé dos portugueses em santuário da pedofilia.
Um pouco por todo o mundo, sob a orientação atenta e generosa do Papa Francisco a Igreja constituiu comissões que investigaram, revelaram e indemnizaram as vítimas dos abusos pedófilos por parte do clero. Não em Portugal em que a hierarquia católica, liderada pelo cardeal patriarca Manuel Clemente, se recusa a ouvir os apelos dos seus próprios fiéis.
Muito recentemente um grupo numeroso de personalidades católicas endereçou à conferência episcopal um pedido para que tome a iniciativa de promover uma investigação independente relativa aos crimes de abuso sexual na Igreja. Os membros deste grupo onde avultam juristas, médicos, professores, engenheiros sentem que só a verdade, a transparência, o arrependimento e a reparação pode restaurar a confiança e apaziguar as vítimas.
Hoje, justificadamente, muitos temem colocar os filhos ao cuidado de escolas e instituições católicas onde as crianças correm sérios riscos de abusos sexuais que depois serão escondidos pelas hierarquias. É que o trabalho de afastamento dos pedófilos que tem sido levado a cabo em muitos países europeus e americanos não começou ainda no nosso país.
Recentemente uma comissão independente, como a que o grupo católico referido acima reclama, revelou a enorme extensão dos abusos sexuais por parte da Igreja Católica francesa. Mais de 300.000 crianças foram abusadas. Um horror de enormes proporções. O Episcopado francês pediu humildemente perdão e prepara-se para vender parte dos bens da Igreja para pagar indemnizações às vítimas. O Papa mostrou-se profundamente triste e apoiou os trabalhos da comissão.
Em França a comissão independente foi liderada por Jean-Marc Sauvé um funcionário público superior que entre outras funções foi Vice-Presidente do Conselho de Estado. Composta por 22 membros, 12 homens e 10 mulheres, sem a presença de qualquer padre ou membro do clero, contou com a participação de especialistas em diversas áreas como a psicologia, a teologia, o direito, etc.. A composição da comissão incluiu ainda membros de outras religiões como Sadek Beloucif da Fundação do Islão em França e de várias etnias.
A comissão teve apoio especializado para a audição das vítimas. Os custos de funcionamento da comissão foram suportados pela Igreja Católica Francesa. Os trabalhos da Comissão duraram cerca de dois anos.
Não é preciso inventar a roda. É apenas necessário olhar para as boas práticas internacionais e avançar. O não o fazer decididamente não pode deixar de ser percebido como encobrimento ativo das práticas de pedofilia do clero sobre crianças inocentes. Está na hora de sabermos a Verdade. As vítimas que continuam a esperar em sofrimento merecem Justiça e Paz.