A expectativa em torno da IA tem vindo a crescer há anos, mas se há algo que aprendemos é que o termo "IA" já não se refere a uma única tecnologia. Os bancos preparam-se para lançar assistentes com inteligência emocional capazes de detetar frustração ou hesitação na voz do cliente. As ambulâncias estão a ser ligadas a sistemas de tráfego controlados por IA e equipadas com sensores em tempo real que permitem aos médicos diagnosticar e intervir remotamente. E nas fábricas, a IA agêntica está a deixar de ser um mero auxiliar dos operadores humanos. Agora, é capaz de gerir cadeias de produção inteiras de forma independente, tomando decisões críticas ao longo do processo. O que une estes desenvolvimentos revolucionários não são apenas algoritmos mais inteligentes, mas a capacidade de movimentar e processar grandes volumes de dados de forma rápida – de forma segura, fiável e onde quer que seja necessário.E aqui reside já um desafio. De acordo com o Gartner’s 2025 Hype Cycle, as tecnologias como a IA agêntica, a IA generativa multimodal e os LLMs de código aberto já ultrapassaram a fase de "gatilho da inovação" e estão agora no "pico das expectativas inflacionadas". Antes que a tecnologia amadureça completamente, será preciso atravessar o "vale da desilusão" e a "rampa da iluminação".A verdadeira história de 2026 será a infraestrutura, e não o software. O sucesso da próxima geração de soluções de IA dependerá inteiramente de redes capazes de oferecer latência ultrabaixa e alcance global, o que significa que uma conectividade deficiente se torna um fator limitador. Sem uma base de redes de alto desempenho, baixa latência e densamente interligadas, aplicações como a IA com adaptação emocional, as ambulâncias conectadas e as microfábricas autónomas correm o risco de ficar estagnadas no pico das expectativas inflacionadas, em vez de se tornarem serviços escaláveis e aplicáveis no mundo real. Eis algumas tendências que podemos esperar para o próximo ano: O paradoxo regulatório da “IA emocional” Os serviços financeiros poderão tornar-se em 2026 no improvável campo de testes para a IA emocionalmente adaptativa. Refiro-me a uma nova geração de assistentes digitais que prometem captar a hesitação, o stress ou a frustração na voz do cliente e responder com maior empatia e consistência do que os sistemas atuais. Em vez de um bot neutro, estes algoritmos podem adaptar a abordagem com base no humor do cliente e melhorar significativamente a experiência digital do utilizador. Segundo os analistas, o mercado de Inteligência Artificial Emocional (IA) irá crescer para 9 mil milhões de dólares até 2030. Mas esta será uma evolução que irá enfrentar tensões. O AI Act da UE classifica a IA Emocional como uma tecnologia de "alto risco", sujeitando-a a normas e supervisão rigorosas o que irá criar um paradoxo: o volume de dados sensíveis gerados está a explodir mas a liberdade para os utilizar parece estar a diminuir. O tratamento de dados financeiros, biométricos e emocionais exigirá, portanto, uma infraestrutura soberana e em conformidade com as normas, que garanta a privacidade, a segurança e o controlo em todas as fases.Assistência médica remota e ambulâncias "em direto"A área da saúde tem sido um pilar da inovação em IA há anos, e em 2026 esta tendência irá continuar com aplicações que salvam vidas e que funcionam em tempo real em cidades inteiras. As ambulâncias equipadas com câmaras e sensores avançados irão transmitir vídeos de alta resolução e dados do paciente diretamente para os especialistas hospitalares, permitindo aos médicos começar a recolher dados do paciente, realizar diagnósticos e orientar os paramédicos em procedimentos complexos mesmo antes da chegada do paciente. Há também, testes em curso em cidades como Chennai, onde os semáforos controlados por IA conseguem dar prioridade aos veículos de emergência, garantindo que as ambulâncias chegam aos hospitais mais rapidamente e com rotas mais claras.No entanto, transformar projectos-piloto como estes em programas de grande escala irá exigir uma actualização radical da infra-estrutura digital. Os governos e os hospitais já estão a procurar expandir a utilização da tecnologia para além dos testes, impulsionando o crescimento do mercado de cuidados de saúde 5G de 95 mil milhões de dólares em 2024 para mais de 362 mil milhões de dólares em 2030. E para concretizar esta utilização, serão necessárias não só redes 5G e Beyond-5G (B5G) robustas, mas também a integração de satélites em órbita baixa da Terra (LEO) para ampliar a cobertura e garantir a sua disponibilidade onde quer que um veículo de emergência esteja. Vidas irão depender do desempenho instantâneo desta infraestrutura de conectividade.IA Agêntica e Microfábricas AutónomasNo próximo ano, a manufatura irá tornar-se no novo palco para demonstrar como a IA agêntica pode gerir ecossistemas industriais inteiros. Em vez de simplesmente automatizar tarefas rotineiras, os agentes de IA são agora capazes de analisar, prever e agir em cadeias de produção de grande escala, desde a manutenção preditiva e garantia de qualidade até à logística e planeamento. Uma das aplicações mais disruptivas será a impressão 3D habilitada por IA, que permite às empresas a produção em massa de bens personalizados com uma velocidade e precisão sem precedentes. Isto ocorre em paralelo com a tendência de deslocalização da produção, uma vez que as empresas procuram reduzir a dependência de cadeias de abastecimento globais frágeis e de custos de transporte crescentes.Contudo, as implicações da IA agêntica vão muito além do nosso planeta. Com o Projeto Olympus, a NASA está já a experimentar instalações de impressão 3D autónomas capazes de construir plataformas de aterragem e habitats a partir do rególito lunar (detritos soltos, poeira, solo e pedras partidas que cobrem a rocha sólida da Lua). O leitor poderá pensar que é um exemplo futurista, mas ele é revelador, de como a IA agêntica pode desacoplar completamente a produção das cadeias de abastecimento tradicionais. Mas este futuro depende do processamento e da troca instantânea de dados em áreas geográficas extensas, e até conseguirmos isto no nosso planeta, a Lua terá de esperar. As microfábricas, por exemplo, só funcionam se estiverem fortemente integradas em serviços de cloud, computação edge e plataformas de interligação capazes de escalar juntamente com a cadeia de abastecimento orientada por IA.E que infraestrutura digital é necessária para suportar as revoluções industriais impulsionadas pela IA?Os casos de uso como os acima mencionados exigem uma conectividade de baixa latência para modelos de IA e serviços de cloud, a integração de diferentes tecnologias de rede e a troca de dados sensíveis entre parceiros ao longo de cadeias de valor específicas do setor ou baseadas em modelos de negócio. Quer se trate do setor da saúde, da indústria transformadora ou dos serviços financeiros, as arquiteturas e infraestruturas de rede existentes não serão suficientes para permitir que os futuros produtos e serviços baseados em IA tenham um desempenho excelente, independentemente da localização dos utilizadores.À medida que as empresas aproximam as suas capacidades das fontes de dados, os micro data centers irão proliferar em paisagens urbanas e industriais. A orquestração de redes de fibra ótica, móveis e de satélite numa malha interligada será essencial para garantir o alcance em todo o lado. Soluções inovadoras de interligação em Pontos de Troca de Internet (IXPs) — desde o peering com diversas redes até ambientes privados exclusivos de parceiros selecionados — oferecem às empresas, soberania, controlo e conectividade de alto desempenho para todos os casos de utilização de IA.Mas começa a haver uma nova solução na implementação dos Pontos de Troca de Internet para IA (AI-IXs). O acesso seguro a cargas de trabalho de IA e cloud para treino e inferência, através do conceito AI-IX lançado recentemente pela DE-CIX que pode ser combinado com a capacidade de criar grupos de utilizadores fechados e personalizados, separados da internet pública. As soluções inovadoras de interligação oferecem às empresas de todos os setores um controlo sobre os seus fluxos de dados e transferência de dados de alto desempenho e em conformidade com as normas para cada caso de utilização.A IA com capacidade de adaptação emocional, as ambulâncias conectadas e as microfábricas autónomas irão continuar a crescer em 2026 e a procura por infraestruturas de IA e interligações de alto desempenho só tenderá a crescer. As cargas de trabalho de IA profundamente integradas na infraestrutura e as interligações de baixa latência irão impulsionar a conectividade necessária para transformar estas provas de conceito em aplicações completas que possam beneficiar todos, em todo o lado, em todos os momentos. É por tudo isto que a conectividade é a nova economia e a latência é a sua moeda mais importante.