Gripe ou Flu a mesma solução: vacinar!

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Avinha-te, abifa-te e abafa-te.

Provérbio português antigo, registado em compilações anteriores ao século XX.

É frequente dizer-se que na vida só há duas certezas: a morte e os impostos. Há, porém, outras certezas e, sem qualquer dúvida, a gripe é uma delas. Trata-se de uma das doenças mais antigas conhecidas da Humanidade e também de uma das mais mortíferas e desvalorizada. Os primeiros registos compatíveis com gripe remontam à Grécia Antiga, por volta de 412 a.C., descritos por Hipócrates, um dos fundadores da medicina e responsável pelo Juramento que reúne os princípios éticos da prática clínica.

O termo gripe vem do francês grippe, derivado do verbo gripper, “agarrar, apanhar de repente”, aplicado a esta doença que agarra uma pessoa de forma súbita e intensa. A febre, a tosse, as dores musculares e a prostração instalam-se em poucas horas e incapacitam quem é infetado.

No século XV, o impacto da gripe foi associado à influência (influenza) dos astros. Deste termo resultou a abreviatura “Flu”, usada na língua inglesa, e o nome do vírus identificado por investigadores britânicos, em 1933. A identificação do vírus conduziu ao desenvolvimento das primeiras vacinas, administradas inicialmente a tropas americanas ainda durante a Segunda Guerra Mundial.

O conhecimento do vírus influenza permitiu caracterizar os dois tipos responsáveis pela doença no ser humano, os tipos A e B. Até à data, todas as pandemias foram causadas pelo tipo A, que apresenta vários subtipos de acordo com a composição das duas principais proteínas de superfície, a Hemaglutinina (H) e a Neuraminidase (N).

O vírus influenza está sempre a mutar e a mudar, pelo que todos os anos as estirpes em circulação são diferentes das do ano anterior. Esta variabilidade obriga a atualizar a composição das vacinas anualmente e a repetir a sua administração. Existe também, desde 2002 na União Europeia, um tratamento específico com inibidores da neuraminidase, o oseltamivir. Apesar das vacinas e destes fármacos, um estudo realizado entre 2009 e 2013 pelo European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) concluiu que, entre 31 doenças infecciosas analisadas, a gripe era a que causava maior carga de doença nos países europeus.

Recentemente, o ECDC emitiu um alerta relativo a uma nova mutação no subtipo H3N2, associada a maior transmissão, circulação mais precoce na comunidade e provável menor efetividade da vacina. O objetivo deste alerta é reforçar a preparação e aumentar as taxas de vacinação, sobretudo nas pessoas com 65 ou mais anos, que tendem a sofrer maior impacto pelo subtipo H3N2.

Felizmente, nos dias de hoje podemos substituir o antigo provérbio “avinha-te, abifa-te e abafa-te” por uma versão bem mais eficaz: “prepara-te, vacina-te sempre e, se necessário, já te podes tratar”.

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