Opinião
27 janeiro 2022 às 00h07

Grandes mitos desta campanha

Pedro Marques

Em Portugal, a solução governativa dos últimos seis anos destacou-se pela recuperação do emprego, devolução de rendimentos, combate às desigualdades, e, nos últimos dois anos, pela gestão da pandemia e vacinação, colocando o nosso país como referência internacional.

Perante este cenário positivo, a direita portuguesa teve de criar uma narrativa para a campanha eleitoral que pudesse afastar os eleitores do PS e atraí-los para o PSD.

O problema? Quando analisamos os argumentos utilizados verificamos que é uma "estória" ficcionada. No final poderia ter a frase: "Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência."

O primeiro mito desta campanha é sobre crescimento económico. A direita insiste no argumento da estagnação económica, dizendo que há 20 anos que o país cresce abaixo da média europeia.

É uma forma ardilosa de apresentar os dados. Analisando os últimos 20 anos diluem os bons resultados do governo de António Costa, que registou crescimentos inéditos. Pela primeira vez neste século, Portugal cresceu acima da média da UE, e fê-lo durante quatro anos consecutivos (2016, 2017, 2018 e 2019), só interrompidos por causa da pandemia. Além de que, após estes dois anos de pandemia, as organizações internacionais indicam que Portugal retoma o caminho da convergência já a partir de 2022. Quando confrontados com estes dados não os negam, mas argumentam que houve vários países que cresceram mais do que nós. Mas como também houve quem crescesse menos... É por isso que a média é a forma correta de analisar. E aí os dados são inquestionáveis.

O segundo grande mito que nos têm tentado contar reside na suposta moderação de Rui Rio que em outdoors espalhados pelo país, mesmo nos Açores, nos tenta convencer de que está "ao centro".

Para conseguir sustentar essa ideia, Rui Rio evita falar do seu programa político "como o diabo foge da cruz".

Relativamente à saúde, apresentou uma proposta de revisão constitucional de onde quer riscar que o SNS é "tendencialmente gratuito". Num debate televisivo, sob pressão, lá explicou que "temos de distinguir aqueles que podem daqueles que não podem pagar". Ou seja, só não paga quem for pobre. Percebendo que perde votos com a proposta, agora evita o tema como pode.

Na segurança social recupera a velha proposta da direita de criar um regime misto, com a parte superior dos rendimentos a deixar de contribuir para a segurança social, passando a ser investida nas bolsas. Além de colocar seriamente em causa a sustentabilidade das pensões, arrisca jogar parte significativa das pensões na especulação bolsista, em que as pessoas podem perder tudo com uma crise financeira (como aconteceu em vários países).

É difícil compaginar estas posições com o centro político ou chamar-lhes moderadas. Elas representam uma alteração radical de dois pilares centrais do nosso modelo social: o SNS universal e gratuito e a sustentabilidade da segurança social.

Aumento do salário mínimo? Redução dos preços dos passes sociais? Era contra, agora nega ou não fala disso.

Nesta campanha, Rio esconde o programa e tem tentado mostrar-se moderado, cordato e de centro. Mas pode alguém ser quem não é?

6 VALORES
Boris Johnson
Quando o Reino Unido passava tempos dramáticos e eram pedidos enormes sacrifícios aos cidadãos para conter a pandemia, o primeiro-ministro infringia as regras que impunha a todo o país participando em festas que eram organizadas na sua residência oficial. Absolutamente lamentável.

Eurodeputado