"A nossa geração é a geração onde tudo acontece mais rápido, mais cedo, porque é a geração que mais sente estar sem tempo”. A confissão que me fez um jovem de 20 anos, quando lhe mostrei o estudo de que vou falar a seguir, resume melhor do que qualquer estatística o paradoxo que atravessa a Geração Z. É a mais ambiciosa e digital de sempre, mas também a mais vulnerável num mercado que não lhe dá percursos claros de carreira.The Gen Z Workplace Blueprint, realizado pela Randstad - uma das maiores empresas de recrutamento do mundo - para o qual foram entrevistados 11.250 trabalhadores de 15 países, mostra-nos que estes jovens (nascidos entre 1997 e 2012) ficam em média um ano e um mês em cada emprego nos primeiros cinco anos de carreira - menos de metade dos Baby Boomers (1946-1964) e da Geração X (1965 - 1980), cuja permanência é de dois anos e nove meses e dois anos e oito meses, respetivamente. Há sempre tendência a pensar que é por desinteresse em ter “empregos seguros”, como ambicionava a geração anterior, ou até porque o espírito de aventura os impulsiona para testar novos desafios. Mas não é isso que se concluíram estes especialistas em recursos humanos. Esta mobilidade resulta, por um lado, de ambição e, por outro, da ausência de percursos claros de progressão. Mais do que qualquer outra geração, a Geração Z avalia novas oportunidades tendo em conta os seus objetivos de longo prazo, sublinha o relatório: 85% dos jovens dizem considerá-los decisivos. Mais de metade (52%) está ativamente à procura de um novo emprego, e só 11% planeia permanecer muito tempo no atual. É uma geração que aprende depressa (79% dizem adquirir novas competências com facilidade), mas que não confia no mercado (41% receiam não encontrar nova colocação). Só 45% têm um emprego a tempo inteiro: o resto vive entre “side hustles”, biscates e pequenos negócios paralelos. Não é desinteresse - é sobrevivência e procura de propósito.Em Portugal, este retrato global é agravado por uma realidade implacável. A taxa de desemprego jovem é de 20,7%, quase o triplo da média nacional e uma das mais altas da União Europeia. Cerca de três quartos dos jovens até aos 29 anos ainda vivem com os pais, porque o salário médio não chega para pagar uma renda. Com rendimentos baixos e habitação inacessível, o caminho para uma vida autónoma está vedado a milhares. Não admira que três em cada dez jovens manifestem disponibilidade para emigrar. E não admira também que mais de 850 mil portugueses entre os 15 e os 39 anos já vivam no estrangeiro, muitos sem intenção de regressar.Neste contexto, a proposta do Governo para reformar o Código do Trabalho sob a bandeira da modernização promete flexibilidade e competitividade. Não significará isso mais precariedade para os jovens? Quando mais de metade da geração já está ativamente à procura de um novo emprego, será esta a receita para fixar talento?Entre a estabilidade que desejam e a aventura que o sistema lhes impõe, a Geração Z vive em suspensão: fica enquanto tem de ficar, sai quando já não aguenta. E muitos, simplesmente, fazem as malas.Se Portugal quiser mesmo reter esta geração, precisa de mais do que slogans sobre flexibilidade. Precisa de salários dignos, habitação acessível, planos de carreira reais. Caso contrário, continuará a ver a sua juventude saltar de emprego em emprego, de contrato em contrato, de país em país. Não por capricho, mas por sobrevivência. E o que hoje se chama mobilidade pode transformar-se, amanhã, em fuga.