Geração Z 212 – Fim do alfabeto – Indicativo precioso! 

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Os mais recentes acontecimentos em Marrocos, analisados à lupa, seguem o modelo da mobilização que fez vingar o M20 fevereiro (2011), enquanto força centrípeta, que conseguiu congregar, por momentos, uma “espetada ideológica”, com laicos, religiosos, chouriço, homo sapiens e neandertais! 

Tal qual como a faísca que há uma semana levantou a juventude marroquina, também em 2011 foram as redes sociais, que serviram de “grito à congregação e à ação”, a partir de 20 de fevereiro de 2011, em todas as principais cidades do reino. Este fator geográfico, dá dimensão à frase e ao movimento, caso ficasse no ponto parágrafo. 

Não é verdade, o M20 foi a força centrípeta que congregou as vontades, mas depois precisou do guarda-chuva institucional da Associação Marroquina dos Direitos Humanos (AMDH), para se blindar juridicamente nas ações, permitindo-lhes aceder à rede mobilizadora da AMDH, essa sim, com delegações nas principais cidades. O AMDH, é aliás, um dos pilares da democracia marroquina, pois trata-se de dar voz aos “desinscritos”! 

Há uma lógica de sobrevivência dos elos mais fracos, nesta entreajuda, entre oportunidade e meios. É um dos ângulos do que está a acontecer, o AMDH não tinha este palco desde 2011/14, e aí está uma nova geração a querer dar cartas. 

Fim de ciclo 

Tendo-se celebrado em julho último, 25 anos de reinado Mohamed VI, não se pode negar um ambiente de fim de ciclo, na psicossociologia, de Tânger a Lagouira. 

Libertador, esse julho de 1999, estava aí um século novo, para fazer coisas novas, por um monarca que já não queria ser temido, como o pai fora e preferiu ser amado! De tal sorte, que foi abraçado como “Rei dos Pobres”. Seria apenas prosélito, elencar os conseguimentos dos últimos 25 anos, da “terra à lua”, que são três os satélites MVI, lá em cima! Não o farei, preferindo centrar-me em dois pontos, de compreensão/solução! 

Primeiro, os novos-pobres, 25 anos depois, são outros. Com um cartão de eleitor e um telemóvel no bolso, com acesso à internet, são cidadãos informados. 

Em 2018, os irmãos mais velhos da maioria dos manifestantes de hoje, como já estavam casados, trabalhavam, tinhas contas para pagar, responsabilidades que obrigam a rotinas, não podiam manifestar-se todos os dias. Foram criativos, na contestação ao custo de vida, e foram ao bolso do Ministro da Agricultura, Aziz Akhannouch, atual Primeiro-Ministro e um dos principais grossistas de víveres, boicotando os seus produtos nos supermercados. Um último reduto, que poderá voltar como protesto mais eficaz! 

Em segundo, dizer o óbvio, o Príncipe Herdeiro Hassan, é da Geração Z e o indicativo do seu telefone começa por 212! 

E se… 

Politólogo/Arabista 

Professor do Instituto Piaget de Almada 

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