Gaza é a grande tragédia do nosso tempo 

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A realidade não precisa que a caracterizemos para ser o que é. Mas a sua caracterização é muito importante para a podermos reconhecer como tal e para avaliarmos o imperativo de consciência de agirmos sobre ela ou para tomarmos o peso à responsabilidade pela inacção ou pela cumplicidade. 

A realidade do genocídio em Gaza já o era antes de ser reconhecida como tal. O mesmo se pode dizer da fome que, há já algum tempo, está a ser utilizada por Israel como arma de guerra contra o povo palestiniano. 

Gaza é a grande tragédia do nosso tempo. 

É a tragédia humana de morte, sofrimento e destruição para as pessoas de carne e osso que são as suas vítimas directas e para o povo palestiniano em geral. É a tragédia política que revela os contornos de horror com que os poderes dominantes estão a desenhar uma época em que a guerra e o terror institucionalizado sejam normalizados como instrumentos de dominação política. É a tragédia ética do exercício de justificação da barbaridade e da crueldade do extermínio humano e das tentativas de amordaçamento de quem se opõe à sua consumação. 

Há já muito tempo que a relatora especial das Nações Unidas, Francesca Albanese, reconheceu que há em Gaza um genocídio. Esse posicionamento e o eco que lhe foi dado não foram suficientes para lhe pôr fim. 

O reconhecimento feito agora, também pelas Nações Unidas, da fome em Gaza acrescenta a confirmação de que, para Israel, não há condicionantes à sua política genocida. A circunstância de, quase em simultâneo, o governo de Israel anunciar a mobilização de dezenas de milhares de reservistas para ocupar Gaza revela a obstinação e o sentimento de impunidade com que essa afirmação é feita aos olhos do mundo. 

O reconhecimento do genocídio e da fome pelas Nações Unidas não é o momento zero daquela realidade. Esse reconhecimento confronta-nos, sim, com uma realidade que já não é possível ser ignorada. Uma realidade que, sendo de tal forma bárbara e cruel, torna incontornável o imperativo de consciência de agir para a travar e pôr-lhe fim. Uma barbaridade e crueldade de tal monta que o peso da responsabilidade pela inacção - ou, ainda mais, pela cumplicidade - se tornará insuportável. 

Há muito que a posição de apoio e cumplicidade com o genocídio assumida pelos EUA, pela União Europeia e pelo Reino Unido se tornou incompreensível e injustificável. A luta que agora se agudiza é a luta para tornar insustentável essa posição, criando pressão sobre governos e responsáveis políticos para que intervenham no sentido de pôr fim ao genocídio e exigir o respeito pelos direitos do povo palestiniano. 

Os passos que vão sendo dados nesse sentido são positivos. E a tomada de posição pública, de forma cada vez mais alargada, por pessoas dos mais variados quadrantes e sectores sociais que denunciam e criticam a inacção perante o genocídio revela o pulsar da consciência do povo português. 

É no engrossar dessas fileiras que está a esperança do povo palestiniano e o contributo solidário que, a partir desta ponta ocidental da Europa, podemos dar. 

Não poupemos esforços! 

Eurodeputado

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