Menos 10.000 candidatos e 6000 colocações na primeira fase. Mais de 9000 vagas por preencher e quase 17.000 estudantes sem colocação depois de concluída a colocação no ensino superior.Estes números do acesso ao ensino superior são uma parte do retrato de um país onde as políticas governamentais cortam as asas ao sonho de milhares de jovens, acentuando desigualdades entre quem tem mais e menos capacidade económica.Só quem vive desafogado e sem dificuldades económicas pode hoje sonhar acordado com o acesso ao ensino superior. E, para aqueles que ousam vencer as dificuldades iniciais, será ainda preciso resistir aos obstáculos económicos que o governo lhes põe pela frente depois de passarem as portas das Universidades ou dos Politécnicos.O resultado destas políticas que negam à Escola Pública o seu papel de instrumento de correcção das assimetrias sociais é um estreitamento cada vez mais acentuado do acesso ao saber e ao conhecimento, uma marca cada vez mais evidente da capacidade económica como factor de discriminação nesse acesso, um País crescentemente empobrecido pelo peso dessas desigualdades e injustiças mas também pela negação das condições de realização pessoal e social de parte significativa do povo e pelo desaproveitamento do seu potencial humano.Mesmo havendo mais estudantes a concluir o ensino secundário, são hoje menos os candidatos ao ensino superior, sobretudo de entre aqueles que têm apoios da Acção Social Escolar.Os governos marcam o percurso no ensino secundário de quem tem menos capacidade económica com mais dificuldades para ter sucesso escolar, desfazendo, logo à partida, o sonho de milhares de jovens que queriam prosseguir os seus estudos para poderem ter uma vida melhor.A insistência do actual governo PSD/CDS em processos de selecção que dificultam o acesso ao ensino superior (com o exemplo flagrante do peso dado aos exames nacionais para a conclusão do ensino secundário e acesso ao superior) é também aplaudido à direita por IL e Chega, com entusiasmo, em nome de um conceito meritocrático de justiça.É um falso pretexto. É, na verdade, o último pretexto a que conseguem agarrar-se para esconder que aquilo que apoiam é uma filtragem social no acesso ao ensino superior. Uma filtragem que deixa presos no filtro os jovens filhos de classes e camadas mais desfavorecidas economicamente.Para quem ficou colocado está ainda guardado o resto.O Governo decidiu aumentar as propinas, deixando-as mesmo sem limite nos mestrados e doutoramentos.Não há nem vislumbre de medidas para contrariar os impactos de custos com transporte ou alojamento. O desinvestimento no alojamento estudantil ficou ilustrado na notícia recente de que não haverá uma nova residência universitária em Évora porque o Governo nem sequer põe de acordo os Ministérios da Defesa e da Educação para a recuperação do edifício de uma antiga messe de sargentos.Quem achar que tudo isto pode dar jeito para alguma barganha política que se desengane. É o nosso futuro colectivo e o futuro da nossa democracia que se afundam com estas opções. EurodeputadoEscreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico