Há uns anos um governo, não me recordo se do PSD ou do PS - que eles sucedem-se sem que nada de essencial mude - criou uma forma de diminuir o valor das pensões de reforma que apelidou hipocritamente fator de sustentabilidade. Na verdade a sustentabilidade da segurança social só depende do crescimento económico e da justiça contributiva das empresas e trabalhadores..Este fator associa um corte na pensão prevista pelos trabalhadores indexado à esperança de vida aos 65 anos. Isto é aos anos de vida para lá desta idade que em média uma pessoa pode esperar viver. Sempre que a esperança de vida cresce a pensão diminuiu e a idade de reforma avança..Nos últimos anos porém, devido ao colapso do Sistema Nacional de Saúde, a esperança de vida aos 65 anos tem vindo a diminuir. De facto as mortes excessivas causadas pelo Covid e pelas mortes por não tratamento, fizeram baixar a esperança de vida. Assim muitos pensionistas que pensavam viver, em média, mais 19 anos depois dos 65 já morreram. Outros viram o seu horizonte de vida diminuir. Ou seja o corte das pensões que tiveram de suportar não se justificou, e continua a não se justificar..Impõe-se, então, uma correção dos cortes efetuados que foram feitos com base em previsões demasiado otimistas e que se revelaram erradas. É de justiça elementar..Mas, dizem, o fator de sustentabilidade foi alterado. É verdade mas só para os novos pensionistas. Mas na verdade os mais afetados são os pensionistas vivos que sofreram cortes injustificados. Não há razão para continuarem com esse corte..O fator de sustentabilidade, como está desenhado, ligado à esperança de vida, não funciona. Com o colapso do sistema de saúde nacional a esperança de vida tem um comportamento errático, sendo que as pensões das pessoas não podem sofrer cortes aleatórios que impedem os trabalhadores de perceber quanto vão receber na velhice e planear as suas vidas..Se este fosse um subsídio às empresas já as vozes se teriam levantado a reclamar da injustiça passada e da imprevisibilidade do sistema. Assim nenhuma voz se levanta sobre o assunto..O ideal seria eliminar de uma vez por todas este fator de sustentabilidade e implementar outro sistema, nomeadamente introduzir uma pequena taxa (1%) sobre os lucros das empresas que recebam fundos públicos europeus ou nacionais. Seria uma forma destas empresas devolverem uma pequena fração dos lucros que obtiveram com o dinheiro público, que é um dinheiro de todos. O valor desta taxa seria afeto a um fundo da segurança social que financiaria as flutuações da esperança de vida dos pensionistas.