Visto do lugar de cada um dos que estão em guerra, a paz é impossível. A Ucrânia não admite ceder território e a Rússia não aceita ficar apenas com o que já tinha antes da invasão de 24 de fevereiro. Para cada um dos campos aliados, aceitar a derrota é também impensável. É evidente que se joga, na guerra da Ucrânia, muito mais que os desejos imperialistas de Moscovo. Os impérios que se confrontam usam os eslavos como carne para canhão, mas é no Pacífico que querem medir forças. Por agora, estão apenas a testar o resto do mundo. Já vimos acontecer..A China anunciou que, assinalando um ano de guerra, avançará com uma iniciativa de paz na Ucrânia, mas aproveitou para apontar o dedo aos que "atiraram achas para a fogueira". Obviamente, procurando culpar Washington. Obviamente, pouco interessada em criar um clima em que a paz possa ser verdadeiramente discutida. A China poderia fazer a diferença, mas não vê o que pode ganhar com isso..A Europa que acabará sempre a perder, seja qual for o resultado da guerra, trabalha para adiar o seu declínio. Não está capaz de se defender militarmente a si própria e está em segundo plano na guerra económico-financeira em curso entre a China e os Estados Unidos. Quanto menos conta mais a Europa amedronta as suas opiniões públicas, influenciadas pelo populismo nacionalista e religioso, interessadas em ver o fim da guerra, disponíveis para serem convencidas da vantagem de uma derrota ucraniana..O problema é mesmo esse, a democracia enfrenta um perigo crescente neste e no outro lado do Atlântico. Sabemos que não existem sistemas perfeitos e não duvidamos que a democracia é o menos mau dos sistemas, mas o que agora precisamos de lembrar é que a democracia é o único sistema que fornece instrumentos de combate político mesmo a quem a quer derrubar..Continuaremos dependentes da iniciativa norte-americana, visto que a democracia de Washington, mesmo com propósitos às vezes difíceis de entender, será sempre mais aceitável que a autocracia chinesa ou russa e, mais ainda, quando as duas se declaram em "pareceria sem limites". Mas não é igual ter Biden na Casa Branca ou deixar que volte Trump ou um sucedâneo que, parecendo mais aceitável pelos modos, seja mais perigoso nas intenções..Um ano depois, andam meia dúzia de pombos perdidos a tentar falar de paz num céu infestado de falcões que não querem o fim desta guerra e já andam a preparar as próximas..Jornalista