Fórum de Lisboa, o encontro no qual Portugal perdeu a chance de ser protagonista
A chegada do almirante Gouveia e Melo à Aula Magna para participar do primeiro painel do último dia do Fórum de Lisboa, na passada sexta-feira, foi cercada de excitação. Talvez nem tanto por ele, mas por causa do seu colega de palco. O futuro presidenciável brasileiro, Tarcísio de Freitas, atual governador do estado de São Paulo e apontado como sucessor de Bolsonaro.
Talvez este tenha sido o momento, e lamento muito dizê-lo, em que Portugal passou menos apático no evento. Já no palco, os dois foram apresentados como "os presidenciáveis" de cada país, recebendo ovações da plateia. Tarcísio e o almirante debateram o contexto geopolítico atual e blocos militares.
No dia anterior, quinta-feira, Luís Marques Mendes também esteve na Aula Magna, no primeiro painel daquele dia, mas poderia facilmente ter passado despercebido. O público mal sabia de quem se tratava.
No primeiro dia do evento, quarta-feira, António José Seguro participou de uma mesa mais humilde, num dos anfiteatros da Faculdade de Direito, num debate sim instigante sobre a nova ordem económica mundial, mas sem que houvesse repercussão sobre quem ali estava.
Do Governo, só o novato ministro Gonçalo Matias cumpriu o compromisso. A ministra da Administração Interna cancelou a sua presença no painel sobre crime organizado, soubemos (nós, jornalistas) apenas na hora. Antes, o secretário da Imigração não apareceu para a mesa na qual interviria e saímos de lá sem um motivo apresentado. Por coincidência, foi no dia seguinte ao ministro da Justiça brasileiro ter declarado que o Brasil poderia agir de forma recíproca nas restrições aos vistos e residência.
O Fórum de Lisboa movimentou, no ano passado, 15 milhões de euros. Esta edição tem potencial para fechar com números maiores, visto que houve mais participantes, cerca de três mil, segundo os organizadores. E não se viu Portugal de forma institucional a aproveitar esta oportunidade.
Quem brilhou? A academia, até mesmo pela origem do evento - o Fórum de Lisboa nasce dos contatos do ministro Gilmar Mendes com juristas portugueses, nomeadamente o professor catedrático Carlos Blanco de Morais, que recebeu muito reconhecimento ao longo dos três dias. Em cada mesa, algum académico nacional mostrou o seu valor.
Este pode ser um 'evento brasileiro', mas é um evento em Portugal. Com a próxima edição já confirmada para datas "mais ou menos", como disse Gilmar Mendes, neste mesmo período, o país tem até lá para decidir protagonizá-la.