Explicar a guerra às crianças

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Como se explica a guerra a uma criança? Devem os pais abordar este tema com os filhos? Se sim, de que forma?

É impossível que as crianças não se apercebam do conflito existente entre a Rússia e a Ucrânia. É o tema dominante em todos os canais de televisão e invade as nossas casas de manhã à noite. Também na escola, as crianças falam umas com as outras e, dessa forma, tomam conhecimento do que está a passar-se no mundo.

Se queremos educar para o exercício de uma cidadania ativa, é importante não esconder das crianças a realidade, ainda que esta possa ser muito dura. Devemos, sim, ter cuidado para não diabolizar as partes em conflito e evitar rotulá-las como "países bons" e "países maus", o que apenas contribui para uma visão polarizada da situação.

Sem alarmismos nem exageros, e com uma linguagem que a criança entenda, deve procurar-se uma explicação que tranquilize e transmita segurança. Mais do que focarmo-nos na violência e na destruição, devemos salientar que a guerra acaba com a paz, geralmente conseguida através do diálogo e do estabelecimento de acordos.

Neste contexto, é fundamental que as crianças compreendam que existem diversas formas de resolução de conflitos e que, ao invés da violência, devemos resolver os problemas com recurso a uma comunicação assertiva e à negociação. E que, apenas dessa forma, estaremos a lutar por um mundo melhor e mais justo, numa cultura de não violência e de respeito pelos direitos de todos.

Ao mesmo tempo, deve dar-se espaço para que a criança faça perguntas e expresse aquilo que sente, partilhando os seus medos e preocupações. As mais novas podem mesmo desenhar ou jogar algo que represente a guerra, o que não tem de ser necessariamente preocupante - através destas formas de expressão, as crianças elaboram os conflitos que as preocupam e angustiam.

As crianças devem ainda ser ajudadas a aplicar esta lógica de pensamento às situações da sua vida quotidiana, seja em casa, na escola ou com os amigos. Perante qualquer tipo de conflito ou desacordo, podemos escolher usar estratégias de resolução não violentas, assentes no diálogo, na escuta do outro e na procura de soluções que beneficiem, de alguma forma, todas as partes.

Aproveitemos a guerra para educar para a não violência, ajudando as crianças a interiorizar a ideia de que os conflitos podem ser resolvidos pacificamente e que, apenas dessa forma, poderemos todos transformar uma crise numa oportunidade de aprendizagem e crescimento.

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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