Evolução tecnológica não traz só benefícios

Publicado a

Não raro, ouve-se o argumento de que a atual revolução tecnológica – a da inteligência artificial (AI) – vai promover benefícios similares a significativas transformações tecnológicas do passado, como a [re-]invenção da prensa móvel no Ocidente ou a Revolução Industrial.

A [re-]invenção, em 1450, da prensa móvel no Ocidente (por Gutenberg) e a sua progressiva popularização, permitiu a edição em massa de livros, tornando-os mais acessíveis e baratos, facilitando a disseminação do conhecimento e a difusão de ideias por toda a Europa. Dentre os livros impressos, contam-se a Bíblia, obras de autores clássicos como Aristóteles, Platão e Cícero, as 95 Teses de Lutero, livros de medicina e ciência como De Humani Corporis Fabrica de Andreas Vesalius, mas também, e sobretudo, obras literárias em línguas vernáculas, como O Decameron de G. Boccaccio e A Divina Comédia de Dante Alighieri. Significativo sucesso editorial (30 edições impressas entre os séculos XV e XVII) teve o Malleus Maleficarum (conhecido em português como O Martelo das Feiticeiras), de Heinrich Kramer e Jacob Sprenger, publicado em 1487 na cidade alemã de Speyer, um manual inquisitorial que relata as propriedades dos “demónios” e a sua ligação com a bruxaria, como lidar com tais entidades, como proceder aos julgamentos – com amplo repertório de torturas – e como cumprir as sentenças (diversas formas de morte das “bruxas”). Sem a facilidade de impressão e subsequente disseminação desta maléfica obra, dezenas de milhar de mulheres pobres e marginalizadas teriam sido poupadas a vis perseguições, torturas e assassinatos.

Consultor financeiro e business developer www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira

Diário de Notícias
www.dn.pt