Estou deprimido e sorrio

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A depressão é uma perturbação mental que afeta crianças, adolescentes, adultos e pessoas idosas. Não escolhe idade, género, estatuto socioeconómico, afiliação política ou religião. E, contrariamente ao que pensamos, anda muitas vezes mascarada e por isso podemos nem a reconhecer - em nós ou nos outros.

A depressão envolve um conjunto de sinais e sintomas que a caracterizam, em termos de diagnóstico, e que envolvem, de uma forma geral (na medida em que existem diversos diagnósticos possíveis), um humor mais deprimido, a perda da capacidade em sentir prazer, maior fadiga, diminuição da capacidade de atenção e concentração, sentimentos de culpa e desvalor, alterações nos padrões e sono e de apetite e falta de esperança no futuro. O próprio é sentido como inferior e sem recursos para fazer face aos imensos obstáculos que os outros e que o mundo em geral apresentam, e o futuro é percecionado como uma eternização desse mesmo estado de sofrimento. De mãos dadas com a depressão surgem muitas vezes as ideias de suicídio, entendido como a única solução possível para aquilo que se vivencia.

Falamos de um conjunto de sinais e sintomas que nem sempre são óbvios - por vezes, nem para a própria pessoa que os experiencia, e muito menos para quem a rodeia.

Quem vive na pele esta sintomatologia diz muitas vezes para si mesmo que esta é apenas fruto do stress e do cansaço acumulado, do excesso de trabalho e das preocupações. Encontram-se justificações atrás de justificações, negando-se (de forma intencional ou não) aquilo que se sente.

Ao mesmo tempo, podemos conviver com pessoas deprimidas e que sorriem. Que trabalham e que são funcionais. Que disfarçam e mascaram tão bem aquilo que verdadeiramente sentem que “ninguém diria”.

Recentemente, alguém me dizia: “estou deprimido e sorrio. Sorrio sempre, digo piadas e faço tudo o que tenho para fazer. Vivo em piloto automático e permito-me chorar apenas quando deito a cabeça na almofada. Quando ninguém vê e ninguém ouve. E no dia seguinte levanto-me e repito o mesmo teatro. Vivo a fazer de conta, e às vezes já não sei se apenas para os outros ou se também para mim mesmo”.

A depressão pode ser insidiosa, subtil e possuir a arte camaleónica. Disfarça-se bem e sabe enganar. Por isso, estejamos verdadeiramente atentos a nós mesmos e a quem está ao nosso lado, ao que é dito e ao que não é dito. Às pequenas entrelinhas que tantas vezes ignoramos, acreditando que está tudo bem.

Não, nem sempre está tudo bem.

Se se sente assim, peça ajuda agora. Se desconfia que alguém próximo de si se sente assim, vá agora conversar com esse alguém e ofereça ajuda. 
Não deixemos que o brilho das luzes de Natal nos ofusque a visão daquilo que realmente importa. 

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