Espanha obriga empresas a reportar carbono

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Enquanto a Europa abranda na exigência de relatórios ambientais e sociais por parte das empresas, o impacto das alterações climáticas aumenta na Península Ibérica, como foi visível nos incêndios deste verão e como é visível esta semana com as elevadas temperaturas que se fazem sentir.

Enquanto a Europa parece subjugar-se à narrativa central da guerra, à subvalorização dos direitos humanos e das mulheres iniciada pela atual presidência americana e a uma visão de curto prazo para acalmar os lobbies anacrónicos de setores que se recusam a reconhecer que o planeta está à beira do abismo, Pedro Sánchez parece ser um dos únicos políticos que consegue colocar a racionalidade à frente do imediatismo. No início de setembro, o primeiro-ministro espanhol anunciou um plano de dez pontos para preparar o país para a emergência climática, alertando: “Se não quisermos deixar aos nossos filhos uma Espanha cinzenta, devido aos incêndios e às chamas, ou uma Espanha castanha, devido às inundações, precisamos de uma Espanha mais verde.” Para Sánchez, os incêndios florestais provocados pela onda de calor em agosto, que mataram quatro pessoas, “queimaram uma área seis vezes maior do que Ibiza e exigiram o maior esforço humano e técnico já visto em Espanha”, evidenciando assim a necessidade de se tomarem medidas imediatas para mitigar os efeitos da crise climática.

Sánchez afirmou ser necessário “mobilizar-nos como sociedade contra as alterações climáticas, que são um inimigo comum que está acima das ideologias” e acrescentou que “as alterações climáticas matam. Matam mesmo. E é por isso que temos de estar conscientes de tudo o que elas representam em termos de insegurança e de riscos para as nossas vidas “... “A negação das alterações climáticas por parte de uma parte importante da sociedade – que está a aumentar devido às mentiras difundidas nas redes sociais por alguns membros da nossa classe política – é tão incompreensível quanto preocupante”. Esta preocupação com a desinformação ganha ainda maior relevância quando se tem consciência de que as catástrofes relacionadas com o clima nos últimos cinco anos custaram a Espanha cerca de 32 mil milhões de euros, o que equivale a cerca de 10% do PIB português e 2% do PIB espanhol.

Neste contexto, o primeiro-ministro lançou o Plano Macional de Emergência Climática, que inclui fundos para a preparação e a reconstrução após desastres relacionados com o clima, melhorias na capacidade de combate a incêndios, um plano para aumentar a resiliência hídrica face a inundações e secas, bem como iniciativas para combater o despovoamento rural e ajudar a manter a terra livre de materiais combustíveis. Foi ainda proposta a criação de uma agência estatal de proteção civil para coordenar respostas a crises, uma rede de refúgios climáticos em todo o país e uma revisão da gestão florestal e do uso da terra. Sánchez afirmou ainda que a agricultura desempenha um papel central no combate à crise climática, salientando as vantagens da agricultura extensiva, do pastoreio responsável e da irrigação eficiente. Perante estes factos, não restam muitas dúvidas de que Sánchez pretende implementar uma política que promova uma “cultura cívica de prevenção e reação” e que acelere a transição verde.

Além destas medidas macroeconómicas e de estratégia nacional, Espanha tornou obrigatória a elaboração de relatórios corporativos sobre emissões de carbono por parte das empresas, com efeito imediato, bem como a elaboração de planos quinquenais de descarbonização, que devem incluir uma avaliação dupla da materialidade climática e metas mensuráveis. As grandes empresas estão obrigadas a reportar as emissões de âmbito 1 e 2 já a partir de 2025. Até 2028, as maiores empresas também deverão reportar as emissões de âmbito 3. Os departamentos governamentais e alguns outros órgãos públicos também serão abrangidos, elevando o número total de entidades sujeitas às novas regras para cerca de 4000.

Tendo em conta as semelhanças entre os problemas de Portugal e Espanha nesta área... Mais não digo... Mas há alturas em que gostaria de viver em Espanha!

PhD, CEO da Systemic

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