A propósito das eleições autárquicas, mas também, muito em breve, das votações no Sport Lisboa e Benfica e nas presidenciais, alguns observadores têm defendido a adoção generalizada do voto eletrónico. Em sua defesa, apontam aspetos como a comodidade e a maior acessibilidade.O apelo à adoção do voto eletrónico, refira-se, surge ciclicamente. No passado já tivemos propostas para que fosse adotado, com o intuito de aumentar a participação e de permitir que certas categorias de eleitores, nomeadamente os emigrantes, não fossem privadas do seu direito ao voto.Em teoria, aumentar a participação e facilitar o ato de votar são objetivos virtuosos.Em defesa do voto eletrónico, alguns observadores alegam que algumas ordens profissionais já adotam este procedimento eleitoral. Aliás, sem problemas de maior, complementam, os portugueses fazem todo o tipo de transações na internet, inclusive as bancárias, sem problemas estruturais de fiabilidade.Mas será mesmo assim?A primeira questão fulcral que importa garantir é que o resultado das eleições seja confiável. Nada é mais desastroso do que candidatos perdedores, e os seus apoiantes, desconfiarem da fiabilidade dos resultados apurados.Ora, apesar de todas as promessas oferecidas pela votação eletrónica, por ora miríficas, são as urnas e o papel, mau grado todo um certo ar arcaico, que oferecem maior confiabilidade e segurança.Sejamos muito claros. De acordo com o consenso científico, não há nenhum sistema de votação eletrónico que seja seguro. Este pode ser pirateado em larga escala e ser indetetável por tempo suficiente para que um candidato ‘vencedor’ seja anunciado e tome posse.Mesmo com sistemas mistos, com voto eletrónico presencial nos locais designados para o efeito, a desconfiança não abranda. Veja-se a dúvida que Jair Bolsonaro colocou sobre a sua não eleição e como milhões de brasileiros acreditaram, e alguns ainda acreditam, que a vitória de Lula da Silva foi fraudulenta.Por outro lado, não é comparável o voto eletrónico com o ato de transferir dinheiro ou de pagar contas, via app ou internet banking. Em caso de fraude, o detentor da conta bancária deteta-a.O secretismo associado a cada voto eletrónico torna inviável que o votante consiga rastrear o seu voto particular. Não existe algo similar ao extrato bancário para ver os saldos e os movimentos das contas.Por tudo isto, com exceção da Estónia, nenhuma democracia madura recorre ao voto eletrónico.Numa era de extremismos, onde grupos se digladiam de forma pouco civilizada, devemos colocar toda a ênfase na fiabilidade e na transparência, com isso removendo ao máximo as oportunidades para que a integridade das eleições seja posta em causa.No estado atual do conhecimento científico, isso quer dizer que nada substitui a velha tecnologia do voto em papel, preenchido pelo votante e suscetível de ser contado (ou recontado) à mão.Sim. Quero continuar a ter confiança que o presidente do meu município, do Benfica ou de Portugal, são de facto os vencedores da eleição por vontade popular e não por efeito de qualquer pirata informático.Não precisamos de acirrar ódios e semear desconfianças, de forma desnecessária Presidente do SNQTB