Eleições intercalares nos Estados Unidos - explicação dos resultados

Por que é que quase uma semana após as eleições intercalares de 8 de novembro ainda não sabemos ao certo quem ganhou muitas corridas, incluindo o controlo da Câmara dos Representantes?

Cada estado tem as suas próprias regras eleitorais, a maioria permite a votação por correio carimbado no dia das eleições, pelo que é perfeitamente normal nas eleições norte-americanas que demore até duas semanas a receber todos os boletins de voto, passar pelo moroso processo de verificação manual da sua validade, verificando com as listas de assinaturas que a assinatura é válida antes de as contar, todo o processo controlado por observadores de ambos os partidos. Os resultados oficiais das eleições levam sempre muito tempo, mas, normalmente, ninguém tem de esperar por eles: os meios de comunicação anunciam os vencedores com base nos votos atuais, mais as estimativas dos votos a contar, e todos aceitam o resultado previsto. Este sistema funciona bem quando há uma grande diferença entre o vencedor e o derrotado, mas se a diferença for pequena, todos precisam de esperar até que mais votos sejam contados, possivelmente até aos últimos votos em corridas particularmente renhidas. Como o eleitorado dos EUA está cada vez mais dividido em duas metades iguais, originando cada vez mais disputas muito próximas em que, para nós, praticamente todos os votos têm de ser contados para obter o resultado, teremos de nos habituar a esperar semanas para saber quem ganha as eleições nos EUA.

A partir do início da manhã de domingo, sabemos que: i) contra todas as expectativas, os democratas manterão o controlo do Senado; ii) os democratas ganharão muito mais corridas para cargos menos importantes, para governador, secretário de Estado, e Senados e Câmaras Estatais, do que o previsto; e iii) os republicanos ganharão quase de certeza o controlo da Câmara dos Representantes, mas com uma maioria mínima. Não há dúvida, o Partido Democrata saiu-se muito, muito melhor do que o esperado, com base no padrão histórico em que o partido do presidente perde sempre as eleições intercalares, e os republicanos liderados por Trump estiveram muito pior.

Porque é que isto aconteceu?

Ainda não podemos dar uma resposta cabal, mas observamos que existia uma enorme diferença entre os estados. Em muitos estados onde os candidatos apoiados por Trump alimentaram o medo dos eleitores de a democracia ser ameaçada, bem como o direito de as mulheres ao aborto (agora, uma decisão a tomar por cada estado), a participação era superior ao normal e os democratas saíram-se muito bem, muito melhor do que o esperado. Nos estados onde estas questões não eram centrais, os eleitores estavam mais preocupados com a inflação ou a criminalidade, o resultado seguiu mais a tradição do fracasso do partido do presidente, os democratas em 2022. Os resultados em Nova Iorque e na Florida foram os principais exemplos desta última explicação, os republicanos inverteram quatro assentos na câmara democrática em Nova Iorque, e Ron DeSantis liderou um sucesso notável na Florida pelos republicanos, enquanto, onde o medo da negação eleitoral foi proeminente, como na Pensilvânia e no Michigan, os democratas alcançaram um resultado muito melhor do que o esperado. Além disso, em Estados Oscilantes, todos os negacionistas das eleições apoiados por Trump que eram candidatos a secretário de Estado, o representante oficial do Executivo estatal que normalmente supervisiona as eleições, foram derrotados (dois foram eleitos em estados muito republicanos).

Nestas eleições intercalares de 2022, os eleitores americanos mostraram que se preocupam com a sua democracia, para alívio de muitos.

Na próxima semana: As consequências a médio prazo das Eleições Intercalares de 2022.

Autor de Rendez-Vous com a América, uma explicação do sistema eleitoral americano, presidente do American Club of Lisbon. As opiniões aqui expressas são pessoais e não do American Club of Lisbon.
Pode consultar artigos anteriores e enviar os seus comentários no website: rendezvouswithamerica.com

O oitavo de uma série de artigos semanais sobre as eleições intercalares nos EUA.