Educação Ambiental: da retórica à cooperação
A Educação Ambiental é, mais que nunca, importante e necessária, tanto pelo contexto atual, ao atravessarmos um período pandémico da Covid-19 como, também, pelas crises ambiental e humanitária que enfrentamos, crises estas que acentuam as desigualdades sociais, o aumento da pobreza e dos grupos invisíveis.
O papel social e político da Educação Ambiental toma grande relevância perante as crises que o mundo atravessa, sendo relevante o trabalho que as organizações não governamentais de ambiente desenvolvem no terreno perante os desafios que temos pela frente resultantes destas crises.
Várias conferências das Nações Unidas e várias datas que todos nós conhecemos têm vindo a servir de alerta para os perigos que a sociedade enfrenta, por negligenciarmos a tarefa de cuidar do planeta em que vivemos.
Em muitas conferências e em muitos estudos vem-se alertando que o planeta está em risco, sendo que os ecossistemas enfrentam graves ameaças e que os povos de todo o mundo dependem deles para a sua sobrevivência.
O tema do Dia Mundial do Ambiente 2022 tem como tema "Uma Só Terra", com foco na "qualidade de vida em harmonia com a natureza"
Os problemas que afetam a biodiversidade e o clima mundial passam por respostas políticas que conduzam a compromissos coletivos, sendo a informação e formação conducentes a atitudes e comportamentos ambientalmente responsáveis uma das ferramentas mais relevantes. Os recursos informativos e educativos devem ser tornados acessíveis importando, assim, estimular toda a sociedade ao seu acesso e uso; as políticas locais, nacionais e europeias devem ser capazes de implementar as soluções necessárias para responder às diferentes crises que o Planeta atravessa. Formar cidadãos ativos, sensíveis, conscientes, detentores de capacidade crítica é, assim, o caminho que urge percorrer.
Estamos, portanto, num momento muito importante para consertarmos e concentrarmos atenções na defesa do Planeta e, consequentemente, da nossa qualidade de vida. Já não se trata de trabalharmos para as gerações vindouras, mas da urgência de deixarmos de retórica e passarmos à cooperação, trabalhando com e para as gerações do presente. Os discursos de retórica que alertam para a importância de deixarmos algo para as gerações vindouras é um discurso esgotado. Precisamos considerar e falar nas gerações presentes, temos de concertar a responsabilidade individual com os compromissos coletivos para trabalhar e atuar com as gerações presentes. Daí, também, o papel importante das redes e dos grupos da sociedade civil organizados, dos educadores ambientais, da comunidade docente e científica, dos técnicos de municípios que trabalham em Educação Ambiental.
É importante trazermos os jovens, trazermos as gerações do presente para o debate e para a construção de políticas públicas que, sendo implementadas no presente, precisam ser apropriadas por quem irá ter de as considerar com as gerações futuras.
As políticas globais, nacionais e locais, em particular, devem ser capazes de aumentar as soluções necessárias para enfrentar as crises que vivemos, políticas capazes de formarem cidadãos ativos, sensíveis, conscientes, detentores de capacidade crítica. Neste momento em que passámos por períodos de isolamento precisamos, também, de repensar as formas de mantermos uma aproximação entre as pessoas e a natureza. É assim este o caminho que urge percorrer.
Estamos num momento de incertezas e todos nós temos que estar preparados para trabalhar e atuar em conjunto, criando sinergias para ultrapassar os desafios que termos pela frente em cada área de trabalho, em cada organização, tendo em conta os projetos educativo-ambientais pensados com as comunidades locais; e, como atrás referido, temos que olhar para os constrangimentos, mas também para os desafios que resultam desta crise ambiental que atravessamos.
Neste contexto os atores que atuam no campo da Educação Ambiental são essenciais para o processo educativo que possa contribuir para preparar as pessoas com o conhecimento necessário, valores éticos e corresponsabilidade social, caso contrário as respostas e políticas individualistas "cegas" levarão ao acentuar dos problemas ambientais, da crise humanitária e das desigualdades sociais. É responsabilidade de toda a sociedade desenvolver mecanismos para que mais pessoas assumam mudanças nos padrões de consumo e comportamento ambientalmente responsável, assentes em políticas públicas que tenham em conta os limites ecológicos do Planeta.
O papel da comunidade educativa nas políticas locais
Se a educação tem como finalidade contribuir para o exercício da cidadania e para o espírito crítico dos cidadãos, dando-lhes a possibilidade de melhorarem a sua qualidade de vida, é importante que os programas educativos se enquadrem em marcos estratégicos integrais devendo contemplar a dimensão educativo-ambiental como um dos seus principais eixos transversais, de acordo com o preconizado nas Estratégias Nacionais de Educação Ambiental e de Educação para a Cidadania.
Neste contexto enquadrado por "compromissos explícitos com a integridade dos sistemas ecológicos e construção de um mundo mais justo, ético e com harmonia, situa-se a Educação Ambiental como proposta e resposta educativa para um desenvolvimento que prevê um presente/futuro sustentável; (...)". "A educação ambiental, cremos, é uma oportunidade - entre outras - para que seja exequível assentar a educação e a sociedade sobre novas bases filosóficas, epistemológicas e antropológicas: criadora e impulsionadora de novos pontos de vista e estratégias no diálogo educação-ambiente, inspiradora de novos conteúdos e métodos pedagógicos, geradora de iniciativas solidárias e de responsabilidades partilhadas, promotora de coesão e integração social, garante de direitos e liberdades cívicas, possibilitando uma ética ecológica biocêntrica, etc." (Caride e Meira, 2004).
Desta forma a escola é um lugar privilegiado onde se pode promover e experimentar projetos e programas que tenham, em si mesmo, um extraordinário valor educativo para intervir nas políticas locais de acordo com os princípios de corresponsabilização para sociedades ambientalmente responsáveis e socialmente justas, proporcionando aos jovens o seu envolvimento nos processos de decisão. Para tal as escolas têm ferramentas ao seu dispor para suportar os seus projetos em documentos orientadores como o Referencial de Educação Ambiental para a Sustentabilidade, a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania e a Estratégia Nacional de Educação Ambiental.
Presidente da Direção Nacional | Associação Portuguesa de Educação Ambiental - ASPEA